Título: Lagoas do Distrito Federal em perigo
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, Brasília, p. D4

As lagoas do Distrito Federal podem desaparecer, dependendo da forma de exploração dos aquíferos que as alimentam. Em dissertação de mestrado do Instituto de Geociências na Universidade de Brasília (UnB), a geóloga Letícia Lemos de Moraes analisou a situação em sete lagoas do DF e Entorno e chegou à conclusão de que o risco é sério. No estudo, ela aponta as principais causas dos rebaixamentos dos reservatórios aquíferos e traça possíveis soluções para a preservação dos recursos hídricos da região. - O nível de água das lagoas cai de acordo com a precipitação pluviométrica, mas também está relacionada a ações do ser humano - explica Letícia.

Entre os casos estudados pela geóloga, dois chamam mais atenção: a lagoa do Jaburu, localizada no terreno do Palácio de mesmo nome, da Vice-Presidência da República, e a lagoa Joaquim Medeiros, em Planaltina. A última chegou a ficar sem água por mais de um ano. Nas áreas próximas a ela foram encontrados mais de 30 poços e seis cisternas.

- A exploração do potencial aquífero que abastecia a lagoa diminuiu o fluxo de água para o reservatório natural - diz a geóloga.

Preservação -O desaparecimento das lagoas estudadas por Letícia causariam sérios danos ambientais.

- As lagoas são ecossistemas muito sensíveis e precisam ser preservados - afirma.

Para garantir a manutenção das lagoas, Letícia aponta soluções. Nas mais secas e com baixo nível de água, pode ser feita a recarga artificial do aquífero.

- Há várias formas de se reabastecer a lagoa. Uma delas seria o encaminhamento da água da chuva para que ela possa infiltrar-se mais facilmente no solo - sugere Letícia.

O monitoramento constante do nível dos aquíferos é uma saída para a preservação das reservas naturais de águas. O controle por parte dos órgãos governamentais é fundamental para evitar a exploração indevida dos lençóis freáticos.

- Ainda falta monitoramento dos aquíferos. A maior parte dos poços é irregular e não têm autorização para operar - critica Letícia, que teve dificuldade para levantar dados quantitativos para a tese devido à falta de controle dos poços.

Para o diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas e Saneamento do DF (Adasa), David Matos, a melhor forma de monitorar os reservatórios é promover a integração a comunidade e órgãos ambientais do governo distrital no controle da água das lagoas.

- É fundamental que a população participe. É preciso fazer vigilância constante e, para isso, faz-se necessário um sistema de informações sobre tudo o que acontece nos recursos hídricos do DF - justifica.

Para melhorar o monitoramento dos reservatórios de água da região, Matos aposta na criação do Comitê de Bacias do DF. Ele acredita que até o primeiro semestre do ano que vem, será possível colocar em prática um plano de gerenciamento de recursos hídricos em parceria com a Secretaria de Obras e a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).

O subsecretário de Recursos Hídricos, Pedro Celso Antonieto, aposta na educação como a melhor forma de combate à destruição das lagoas no DF.

- A legislação que trata de águas é muito recente [pouco mais de 10 anos], por isso é necessário ensinar as pessoas para que elas saibam que precisamos ter controle sobre isso - afirma Antonieto.