Valor Econômico, n. 4921, 17/01/2020. Brasil, p. A3

Secretaria especial vai cuidar do ingresso na OCDE, diz Onyx
Matheus Schuch
Fabio Murakawa


O governo Jair Bolsonaro vai criar uma secretaria especial para tentar agilizar o processo de ingresso do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A decisão foi anunciada ontem pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, após ele se reunir com o encarregado de negócios interino da embaixada dos Estados Unidos, William Popp.

A mobilização do governo ocorre após a manifestação dos Estados Unidos de que o Brasil deve, na visão do governo americano, ser o próximo país a iniciar o processo de adesão ao grupo.

“A função dela [secretaria] é poder melhorar nossa relação com o organismo internacional, com países-membros que sejam mais fortes dentro da OCDE, buscar cada um dos passos de acreditação para que o Brasil, no mais curto espaço de tempo, possa ser membro desse time, que é o time que vence no mundo”, afirmou Onyx, que coordenará a nova secretaria a ser criada.

Segundo o ministro, a estrutura será instalada oficialmente até a próxima semana. Ela será comandada por Marcelo Gomes, hoje subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil.

“Ele [Gomes] já vem trabalhando conosco, mas, agora, com ainda mais força, mais condições, para que, junto com o Ministério de Relações Exteriores e junto com o Ministério da Economia, a gente possa acelerar tudo o que a gente puder”, complementou Onyx.

A Casa Civil informou que são exigidos 254 instrumentos legais para acessão à OCDE, sendo que dois não se aplicam ao Brasil. Até agora, 81 pontos foram acreditados e 65 estão em análise. As outras demandas ainda precisam ser discutidas e implementadas.

Onyx destacou que o ingresso na OCDE leva, em média, três anos. O papel da nova secretaria será alinhar as exigências do organismo para retirar impeditivos à entrada do Brasil.

Considerada uma espécie de “clube dos países ricos”, a OCDE é composta atualmente por 36 países. O apoio dos Estados Unidos é importante, mas o ingresso do Brasil também depende do aval de outros países, como admitiu nesta semana o presidente Jair Bolsonaro.

Em outubro do ano passado, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, enviou um documento ao organismo internacional defendendo as candidaturas imediatas apenas de Argentina e Romênia. À época, a iniciativa frustrou as expectativas do governo brasileiro, levando em conta a postura de alinhamento político entre Bolsonaro e Donald Trump.

Agora, porém, os americanos mudaram e passaram a priorizar a candidatura do Brasil. O novo posicionamento dos EUA também ocorre depois de mais um movimento de apoio do Brasil ao governo do presidente Donald Trump, desta vez ao ataque que matou o general iraniano Qassem Soleimani no Iraque.