Título: Entre a desilusão e a esperança
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 10/10/2005, País, p. A2

Desiludida com a saída de petistas históricos e com a vitória de Ricardo Berzoini no primeiro turno, a ala esquerdista do PT, que apoia Raul Pont, foi às urnas acreditando que uma votação apertada já seria um bom resultado. Mas os primeiros números da apuração contrariaram o pessimismo inicial.

A zona de votação do bairro de Laranjeiras, no Rio, é um reduto da esquerda petista. A maioria do eleitores apoia Raul Pont para o diretório nacional. Sozinho e sem exibir nenhum bottom ou adesivo que apontasse sua tendência na sigla, Tomaz Silva Ferreira chega ao local de votação e, como provocação, assume que torce pelo candidato do Campo Majoritário. Em vez de rebater as acusações que o governo vem sofrendo sobre as mesadas pagas a parlamentares, diz que a estrutura política do país funciona dessa maneira.

- Não tenho nenhum cargo no governo, mas defendo o Berzoini. Essa prática de pagar o parlamento acontece no mundo inteiro. O Delúbio é que foi incompetente ao fazer isso com cheques. Esses partidos da coalizão são patrimonialistas, funcionam dessa maneira. A estrutura política do Brasil é assim. Toda essa crise é função do entrave da oposição. Mas, aqui no partido, nós também temos nossa direita doméstica - acusou.

Em território inimigo, a declaração indignou os militantes que responderam em coro: ''Nós somos esquerda!''.

A discussão esquentou:

- Mas isso é a moral deles, não a nossa. Se você acredita nisso, vai para o PSDB. Vai ser tucano. Se nós somos direita doméstica, vocês são esquerda corrupta. Por causa dessas bestas quadradas eu estou com a cara queimando. Já não tenho nem cara de sair na rua - retrucou o militante Ricardo Leal, que criticou a saída de Plínio de Arruda Sampaio, dizendo que a decisão acabou prejudicando Raul Pont.

Na zonal de votação do Centro, reduto dos bancários alinhados com Berzoini, o clima de ''já ganhou'' era comum. Os raros defensores de Pont não esperavam a vitória, mas consideravam que a ala majoritária sairia enfraquecida do segundo turno.

- Depois das eleições é que a disputa no partido vai começar - disse o bancário Murilo da Silva citando a queda de 10% que o Campo Majoritário sofreu nas eleições que elegeram as chapas no primeiro turno.

A zonal do Horto foi uma das poucas que manteve o número de comparecimento do primeiro turno. Militante do partido, Rodrigo Oliveira considerou precipitada a saída de Plínio Arruda e afirmou que o resultado das eleições vai influenciar muito pouco o debate que deve acontecer após as eleições.

- O PT vai passar por um processo de repactuação. Perder ou ganhar as eleições não define nada. Não é hora de sair. Plínio organizou 35 mil pessoas em torno de sua candidatura e quando saiu, só levou mil. Se ele estivesse certo, sairiam os 35 mil que votaram nele - avaliou Rodrigo.

A universitária Mônica Sapucaia acredita que as forças estão divididas.

- Berzoini vencerá por pouco. Acho que ele está imbuído do sentimento de que não vai ganhar sozinho - afirmou.

As tendências ideológicas amarram o voto estadual ao nacional, mas algumas incoerências acontecem:

- Dizem que a Jurema Batista tem um trabalho legal, mas eu estou com o Berzoini e tenho que apoiar o Alberto Cantalice - confessou Robson Reis.

Presidente de um núcleo comunitário, Rute Sales chegou ao Sindicato dos Funcionários de Telecomunicação, na Tijuca, com 7 dos 50 filiados petistas. Rute apoiou Lourival Casula e Maria do Rosário no primeiro turno, mas no segundo apóia Berzoini e Cantalice.

- Para fazer política, é preciso fazer aliança - justificou