Título: No Rio, Pont ganha eleitores do Campo Majoritário
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 10/10/2005, País, p. A2
O segundo turno das eleições internas do PT no Rio revelou ontem a aliança entre tendências opostas. O Campo Majoritário, que há 10 anos comanda o partido, se dividiu e grande parte de seus militantes no Estado votou para a presidência nacional da legenda no candidato da Democracia Socialista, Raul Pont. Às 21h30 de ontem, com 90% das urnas apuradas, Pont tinha cerca de 60% dos votos no Estado, contra 40% do candidato oficial do Campo, Ricardo Berzoini.
Na disputa da presidência estadual, a situação se inverteu. No início da noite, o candidato do Campo Majoritário, Alberto Cantalice, estava virtualmente eleito, também com cerca de 60% dos votos. A candidata do Movimento PT, Jurema Batista, já reconhecia a derrota:
- Eu sou pé no chão, não tem mais como virar esse resultado. Mas estou satisfeita com a vitória do Pont - disse.
Cantalice, que acompanhava a apuração voto a voto atribuiu a diferença entre o resultado nacional e estadual aos apoios que conquistou ao longo da campanha:
- Minha campanha teve apoio de dez setores do partido. Essa diferença entre meus votos e o do Berzoini mostra que aqui no Estado elevamos o nível da disputa e cada militante escolheu a pessoa e não a tendência - explicou.
A afirmação é compartilhada pela professora Denise Lobato, integrante da Executiva Estadual do partido. Ligada ao Campo Majoritário, ela foi votar em Laranjeiras com adesivos de Cantalice e Pont no peito.
- Essa é uma demonstração de amadurecimento da sigla. O Campo Majoritário no Rio tem opiniões diferentes da tendência de São Paulo, que lançou o Berzoini. Aqui fomos unânimes a favor da apuração das denúncias e punição dos culpados. Lá não - criticou.
O vereador Edson Santos, um dos coordenadores da tendência no Estado notou uma queda significativa no quórum. Segundo ele, o número de votantes pode chegar á metade dos que foram no primeiro turno.
- Não tivemos disputa municipal na capital e isso resultou numa queda, que é natural - explicou.
Segundo alguns militantes, a eleição de Cantalice se beneficiou ainda da rejeição ao nome da deputada estadual Jurema Batista. Muito ligada ao deputado federal Carlos Santana, Jurema não conseguiu desvincula-se da imagem de Santana, visto com reservas por grande parte da militância.
Já o fracasso de Berzoini é atribuído também à desistência de Tarso Genro poucas semanas antes do primeiro turno. Independente, Tarso congregava apoios de amplos setores do partido. Berzoini, escolhido depois da desistência de José Genoino e Tarso, foi encarado como um representante do grupo do ex-ministro José Dirceu, acusado de ser o articulador do mensalão.
A eleição revelou outro dado importante. Enquanto na Zona Sul, Berzoini foi massacrado, ficando com apenas 15% dos votos, a força do Campo Majoritário se revelou no interior e nos subúrbios. A interiorização do partido é um projeto tocado há muitos anos pelo grupo de José Dirceu e no Rio reveleu sua força com a eleição de Cantalice.
Ex-presidente do diretório municipal de Nova Iguaçu, Cantalice foi escolhido por alguns caciques do partido no Estado - sobretudo Marcelo Sereno e Jorge Bittar - para continuar o projeto de enraizamento da legenda nos grotões.