O Globo, n. 32636, 14/12/2022. Política, p. 5

Entre veto do PT e afago para negar desgaste, Lula busca lugar de Tebet

Bianca Gomes


Sob a expectativa de ser nomeada ministra após o apoio a Lula no segundo turno da eleição, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) enfrenta o veto do PT a seu nome para o ministério que cuidará do Bolsa Família, como ela deseja, e tem destino incerto a pouco mais de duas semanas da posse. Na segunda-feira, sua ausência na cerimônia de diplomação no TSE, somada à indefinição sobre que participação terá no governo, gerou comentários de um distanciamento entre os dois, negado ontem por ambos os lados.

Tebet (MDB-MS) afastou, em conversas com pessoas próximas, qualquer desgaste com o presidente eleito. Ela disse que não foi ao evento porque estava em um compromisso pessoal em seu estado. Ontem, esteve na reunião que marcou o fim dos trabalhos dos grupos de estudos da transição, e ganhou um afago público do presidente eleito.

Auxiliares do entorno de Lula refutam a ideia de entregar o ministério do Desenvolvimento Social, que abriga o Bolsa Família, carro chefe das gestões do partido, a uma potencial candidata à Presidência em 2026. Um dos petistas mais próximos do presidente eleito relatou ao colunista Lauro Jardim que a senadora não será ministra do Bolsa Família, mas Lula a quer na Esplanada.

— Quero agradecer em especial as pessoas que votaram em mim no primeiro turno, as pessoas que votaram no segundo. Quero agradecer à nossa companheira Simone Tebet, que teve um papel importante na minha campanha e outras pessoas que no anonimato apoiaram a gente.

Alckmin E Janja

O veto do PT, porém, não é suficiente para selar seu destino. Mesmo os petistas que resistem à indicação de Tebet para o Desenvolvimento Social admitem que a palavra final será de Lula. A senadora e o presidente eleito ainda não sentaram para conversar sobre eventual composição.

Tebet tem dois fortes aliados no entorno do futuro presidente. Um é o vice, Geraldo Alckmin, de quem é amiga. O ex-tucano atuou como intermediário para a primeira conversa presencial entre o petista e a senadora. Outra aliada é a futura primeira-dama, Janja, que trabalhou por uma aproximação entre eles no segundo turno.

Ao definir o ministério de Tebet, Lula terá de resolver um nó com o MDB. As bancadas do partido na Câmara e no Senado reivindicam indicar um representante cada para a Esplanada e dizem que Tebet seria da cota pessoal de Lula.

O presidente eleito já sinalizou, no entanto, que a senadora entraria na cota do partido. E o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), disse que Tebet representa, sim, a legenda.

Em meio às indefinições, as opções se estreitam. Embora a preferência seja pelo Desenvolvimento Social, aliados dizem que ela aceita conversar sobre outras pastas, como Meio Ambiente e Educação. Os dois ministérios, porém, já têm cotados. Para a Educação, a favorita é a governadora cearense Izolda Cela (sem partido). Ela, porém, também enfrenta resistência no PT. Já no Meio Ambiente, disputam o posto as ex-ministras Marina Silva e Izabella Teixeira.

O cenário ideal para integrantes do PT seria a indicação da senadora para a Agricultura, o que ela descarta. Interlocutores dizem que o ministério, apesar de importante, restringiria a atuação de Tebet ao Centro-Oeste, onde ela já tem um eleitorado; não agregaria do ponto de vista político.

O MDB, por fim, não descarta a possibilidade de Tebet ficar fora do governo. A avaliação é que a oferta de Lula deve fazer sentido para o futuro político da senadora.