Título: Buscas suspensas na Guatemala
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/10/2005, Internacional, p. A8

O governo da Guatemala ainda não trata como mortos os 1.400 moradores das vilas de Panabaj e Tzanchaj, completamente soterrada por uma avalanche de lama e cinzas do vulcão San Lucas Tolimán. O deslizamento foi causado pelas chuvas trazidas pelo furacão Stan. Oficialmente, o número de mortos guatemaltecos - em conseqüência da tempestade que atingiu a América Central durante a semana passada - é de 519. Ontem, mais 10 mortes foram confirmadas.

- Isso virou um enorme cemitério. Todos foram soterrados por toneladas de lodo. A situação é realmente dramática. Precisamos urgentemente de ajuda - pediu ontem o prefeito de Santiago Atitlán, Diego Mendoza, que administra as vilas maias.

De acordo com a Coordenadoria Nacional para a Redução de Desastres (Conred), em todo o país 675 pessoas estão desabrigadas e foram instaladas em 288 refúgios. Em 421 localidades, 1.298 casas foram destruídas. No interior da Guatemala, 118 comunidades estão totalmente isoladas, e não há informação sobre a sorte de seus habitantes.

Cálculos iniciais estimam que os danos materiais do Stan podem chegar a US$ 800 milhões. Extensas plantações agrícolas foram totalmente arrasadas. No sábado, o presidente Oscar Berger lançou um apelo à comunidade internacional para que envie ajuda ao país. A maioria dos 11,2 milhões de habitantes é de indígenas que vivem na pobreza e que construíram suas casas nas zonas de maior risco, à margem dos rios ou ao pé de morros saturados de água.

Mas para o prefeito Mendoza, pedir ajuda da Cidade da Guatemala tem pouco efeito prático. O político denuncia que Berger não enviou ajuda a Panabaj e Tzanchaj.

- Queremos que o presidente venha aqui, como veio antes das eleições para pedir nosso voto - desafiou.

Desafiando a chuva e a neblina, e sob a ameaça de um novo deslizamento, bombeiros voluntários e vizinhos trabalham na área de desastre desde a manhã de quarta-feira com pás e enxadas, revirando a terra em busca de corpos. Até ontem, tinham recuperado 70 corpos, entre os quais muitos de crianças. As vítimas foram imediatamente enterradas no cemitério do local. À tarde, o trabalho foi suspenso, quando fortes chuvas voltaram a cair sobre os vilarejos.

- O local de escavação é perigoso. Não podemos arriscar mais vidas - explicou Mario Cruz, o porta-voz dos bombeiros voluntários.

A meteorologia prevê ainda mais precipitação para os próximos dias, em várias regiões da Guatemala.