Valor Econômico, n. 4921, 17/01/2020. Política, p. A7

Lula atua para evitar prévia em São Paulo
Cristiane Agostine


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula um acordo no PT de São Paulo para evitar a realização da prévia marcada para o dia 15 de março. Lula quer antecipar a escolha do candidato do partido à prefeitura da capital paulista e lançar o postulante até fevereiro. Nos próximos dias, o ex-presidente se reunirá com os pré-candidatos petistas para negociar uma candidatura de consenso.

Sem um nome forte para concorrer em São Paulo, Lula tenta cancelar a prévia para evitar desgastes ao partido, com brigas entre os pré-candidatos e dirigentes. O ex-presidente já descartou a possibilidade de lançar o ex-prefeito Fernando Haddad para concorrer na capital e lideranças petistas afirmam que dificilmente a ex-prefeita Marta Suplicy voltará ao PT para disputar a eleição.

O presidente do diretório paulista, Luiz Marinho, reiterou ontem que o PT quer “acelerar” o processo de escolha do candidato e “construir um entendimento”.

No dia 6, Lula reuniu-se com o ex-deputado e pré-candidato Jilmar Tatto e Haddad para conversar sobre a eleição paulistana. No encontro, Haddad reforçou que não concorrerá neste ano e o ex-presidente ratificou a posição do ex-prefeito, ao dizer que a missão de Haddad é viajar pelo país, e não entrar na disputa. Ex-candidato do PT na eleição presidencial de 2018, o ex-prefeito é cotado para concorrer à Presidência em 2022.

Ao mesmo tempo em que atua para evitar a prévia, o ex-presidente acompanha de perto as negociações do PT com Marta. Lula quer que a ex-petista integre a chapa petista em São Paulo.

Na quarta-feira, Haddad e Tatto reuniram-se com o empresário Márcio Toledo, marido de Marta, para discutir a participação da ex-prefeita na eleição. A ex-prefeita tem indicado que não voltará ao PT e a tendência é a de se filiar ao PDT para ser vice na chapa petista.

“Marta sabe que o PT terá candidato próprio em São Paulo, mas está disposta a ajudar”, disse Tatto ontem, antes de participar de reunião do grupo majoritário do PT em São Paulo. Haddad reforçou: “Marta quer ajudar e não reivindicou nenhum espaço.”

O PT tem seis pré-candidatos em São Paulo: Tatto, o vereador Eduardo Suplicy, os deputados federais Carlos Zarattini e Paulo Teixeira, o ex-ministro Alexandre Padilha e o ex-vereador Nabil Bonduki. Dos nomes colocados, Tatto é o que conta com maior apoio na sigla.

Lula afirmou nesta semana, em entrevista à rede TVT, que o PT poderá ter uma “novidade” na disputa pela prefeitura paulistana, mas citou as dificuldades que os pré-candidatos da sigla enfrentarão. “Essa gente tem currículo para ser candidato. Mas é preciso saber se vai conseguir transformar esse currículo em apelo popular”, disse.

Diferentemente de São Paulo, o cenário eleitoral em Porto Alegre é mais claro para o PT e o partido caminha para fechar um acordo com o PCdoB. A direção petista deve indicar o ex-ministro Miguel Rossetto para ser vice na chapa encabeçada pela deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). A aliança deve ser discutida hoje, durante reunião do diretório nacional do PT em São Paulo, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) disse que o partido tem se esforçado para construir uma frente de esquerda na capital gaúcha e que foi a única legenda da centro-esquerda a não lançar candidato para a disputa. “É hora de ter unidade, mas unidade com a participação do PT. Sem o PT a esquerda de fragiliza imensamente.”

Nas cidades onde o PT não lançar um nome próprio, o partido reivindica indicar a vice.

A legenda deverá compor com PCdoB e Psol em Santa Catarina, sem encabeçar a chapa. No Rio, o partido tende a abrir mão de uma candidatura própria para apoiar o deputado Marcelo Freixo (Psol). No Recife, o diretório municipal defende manter a aliança com PSB, que lançará o deputado federal João Campos. O comando nacional petista, porém, ainda defende a candidatura da deputada federal petista Marília Arraes.

A estratégia para a eleição municipal, com o lançamento de candidaturas próprias e as alianças com partidos de centro-esquerda, ficou em segundo plano na direção petista, que estava travada por uma disputa interna por cargos na Executiva Nacional. Hoje, o diretório nacional do PT se reunirá para definir os integrantes da Executiva e, posteriormente, começará a debater o cenário eleitoral.

Um dos entraves era a escolha do novo tesoureiro. Ontem, o grupo majoritário do PT, que é responsável pela indicação, definiu o nome de Gleide Andrade, atual secretária de Organização Partidária. O partido terá uma junta orçamentária, que ficará responsável por definir a distribuição de recursos para diretórios e candidaturas.

A reunião de ontem do grupo majoritário petista, na sede do PT em São Paulo, mostrou que petistas presos durante as investigações da Operação Lava-Jato voltaram a frequentar o diretório do partido e participar de decisões estratégicas. O ex-ministro e ex-presidente do partido José Dirceu, o ex-tesoureiro da legenda João Vaccari e o ex-deputado federal André Vargas participaram de conversas e reuniões durante a tarde e evitaram a imprensa.

Hoje, Dirceu deve participar do encontro do diretório nacional, ao lado de Lula. O ex-ministro foi recentemente a eventos do PT, como o congresso nacional, em novembro. Segundo petistas, Vaccari trabalha próximo à sede do partido e tem ido com frequência ao local.