O Globo, n. 32638, 16/12/2022. Política, p. 6

Tebet só quer ministério se for o do Bolsa Família

Bianca Gomes


A senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira colocada na disputa pela Presidência, disse a aliados que não aceitará outro ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que não seja o do Desenvolvimento Social, pasta que abriga o Bolsa Família. Interlocutores da emedebista afirmaram ao GLOBO que a parlamentar está irredutível: se Lula oferecer outra pasta, ela ficará fora do governo.

A pessoas próximas, Tebet tem dito que está nas mãos de Lula a decisão sobre o seu futuro no governo. Integrantes do MDB já falam em "atraso" do petista para conversar com a senadora. Faltando duas semanas para o início do governo, os dois não se reuniram uma única vez. Agora, sem saber o que Lula decidirá, a parlamentar diz já ter deixado o assunto com o "destino".

Obstáculos no PT

A senadora, que no segundo turno das eleições embarcou na campanha de Lula contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), declarou a aliados que as portas para outros ministérios já se fecharam e, por isso, Desenvolvimento Social é a única opção. Segundo uma fonte que conversou com Simone, ela diz não querer "ficar num espaço de fala pequeno e amordaçada para fazer as coisas".

Integrantes do PT, como a presidente Gleisi Hoffmann, resistem a entregar a pasta do Bolsa Família para a emedebista. Uma das alternativas ventiladas é indicá-la ao Meio Ambiente, o que Tebet descarta. Ela rejeita ocupar um cargo cobiçado pela deputada eleita Marina Silva (Rede), de quem se tornou amiga durante a campanha eleitoral.

Interlocutores de Tebet afirmam que a indicação da senadora para o Meio Ambiente é uma manobra do PT para tirar de cena a deputada da Rede, vista por integrantes do partido como um nome radical e que incomoda o agronegócio.

Em meio a resistências do PT, Tebet conseguiu um importante aliado para ser indicada à pasta do Bolsa Família: o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. A informação foi confirmada por pessoas próximas aos dois.

Alckmin e Tebet são amigos, e o vice-presidente eleito foi quem atuou como intermediário para inaugurar uma conversa entre a senadora e Lula, como mostrou reportagem do GLOBO. O ex-governador de São Paulo também bancou a indicação de Tebet para o GT de Desenvolvimento Social. A área não estava entre as opções oferecidas inicialmente pelo PT a Tebet. A própria senadora pediu para integrar o grupo, e recebeu o aval de Alckmin.

A presença do vice-presidente eleito em um jantar com integrantes do MDB na noite de quarta-feira foi visto como um gesto na direção da senadora. Diferentes alas do partido se reuniram na casa do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE). O encontro foi interpretado como um sinal de consolidação de Tebet como nome do partido, posição já defendida pelo presidente da sigla e deputado federal, Baleia Rossi (SP).

Plano b

Tebet confidenciou a aliados que tem dúvidas sobre entrar ou não no governo. Ela tem sido aconselhada a viajar pelo Brasil para falar de democracia e continuar sendo uma voz crítica ao bolsonarismo. Desde o fim do segundo turno, Tebet tem sido alvo de crítica de petistas. Uma entrevista da senadora dizendo que Lula deveria indicar logo o ministro da Fazenda foi entendida por alas do PT como afronta a Lula.

Caso fique de fora do governo, Tebet já tem até planos de quais serão seus próximos passos. A senadora pretende se mudar para São Paulo, onde contará comum a estruturada Fundação Ulysses Guimarães para continuar atuando institucionalmente. O MDB também pretende dar uma estrutura para que a senadora, sem mandato a partir de 2023, continue com visibilidade ao longo dos quatro anos de mandato de Lula.