Valor Econômico, v. 20, n. 4903, 18/12/2019. Brasil, p. A2
 

Igualdade de gênero no Brasil pode levar 6 décadas
 Assis Moreira 

 

A desigualdade entre homens e mulheres vai demorar pelo menos 59 anos para desaparecer na América Latina, e no Brasil pode ser necessário ainda mais tempo. A estimativa é do Fórum Econômico Mundial, que publicou ontem seu “Relatório Mundial sobre a Desigualdade de Gênero 2020”. O Brasil ganhou três posições, ficando na 92ª classificação entre 153 países.

Conforme o estudo, América Latina e Caribe reduziram até agora 72,1% de sua desigualdade de gênero e, nesse ritmo, seriam necessários os 59 anos para se alcançar a igualdade - em comparação a bem mais na América do Norte e na Ásia-Pacífico, por exemplo.

Por sua vez, o Brasil fechou 69% de sua disparidade geral de gênero, numa ligeira melhora. Apesar disso, o Brasil tem uma das maiores diferenças de gênero na América Latina, ocupando o 22º lugar entre 25 países da região.

“É muito plausível, visto o desempenho do Brasil, que o país necessite mais do que os 59 anos para eliminar a diferença de gênero”, diz Roberto Crotti, economista principal do relatório.

O especialista afirma que a entidade não calculou especificamente quantos anos cada país precisa para eliminar a desigualdade de gênero, ou especificamente a desigualdade econômica e de oportunidades.

Globalmente, o fórum calcula, em todo caso, que a diferença de gênero em termos de política, economia, saúde e educação só será eliminada em 99,5 anos. A desigualdade econômica entre homens e mulheres poderá demorar 257 anos a desaparecer.

Embora o Brasil tenha melhorado três posições no ranking de igualdade de gênero, ainda está quase 90 posições atrás da Nicarágua (quinta posição), por exemplo. Conforme os cálculos do fórum, a boa notícia é que o Brasil tem hoje igualdade em termos de educação e de saúde entre homens e mulheres.

Além disso, a expectativa de vida das brasileiras é de cinco anos a mais do que a dos homens com boa saúde.

Já a desigualdade econômica continua elevada no país, mesmo que tenha diminuído recentemente. Existe uma baixa taxa de participação feminina na força de trabalho, combinada com persistentes desigualdades salariais e de renda.

A representação política das mulheres, ou falta dela, é o maior peso no desempenho do Brasil no estudo do Fórum Econômico Mundial, ficando na 104ª posição entre os 153 países examinados. Apenas duas mulheres tinham posição ministerial, por exemplo.

A Islândia continua a ser o país com maior igualdade de gênero do mundo, seguida por Noruega, Finlândia, Suécia e Nicarágua.

Enquanto serão necessários 59 anos para se alcançar a igualdade de gênero na América Latina, na América do Norte (Estados Unidos e Canadá) isso se dará em 151 anos. Na Europa Ocidental, serão necessários 54 anos. Na Ásia-Pacífico, 163 anos.