Valor Econômico, v. 20, n. 4903, 18/12/2019. Política, p. A9
 

Ex-governador da Paraíba tem prisão preventiva decretada
Isadora Peron 

 

O ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB) foi alvo ontem de um pedido de prisão preventiva no âmbito da Operação Calvário-Juízo Final. A Polícia Federal (PF) também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao atual governador do Estado, João Azevêdo (sem partido).

Pela manhã, a PF esteve no Palácio da Redenção, sede do governo estadual, e na residência oficial do governador.

Já Coutinho não foi encontrado. Em nota publicada no Facebook, ele afirmou que estava fora do país, mas que iria antecipar o seu retorno para se “colocar à inteira disposição da justiça brasileira para que possa lutar e provar minha inocência”.

De acordo com uma fonte do PSB, Coutinho estava em São Petersburgo, na Rússia. Mais cedo, a PF havia informado que, como o ex-governador estava fora do Brasil, havia sido solicitada a inclusão do nome dele na lista de difusão vermelha da Interpol.

Ao todo, a PF cumpriu ontem 54 mandados de busca e apreensão e 17 pedidos de prisão preventiva na Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio, Goiânia e Paraná.

A suspeita é que o grupo tenha desviado recursos destinados à área da saúde. O valor pode chegar a R$ 134,2 milhões, dos quais mais de R$ 120 milhões teriam sido destinados a agentes políticos e a campanhas eleitorais de 2010, 2014 e 2018.

De acordo com as investigações, três organizações sociais foram responsáveis por articular uma rede de prestadores de serviços terceirizados e de fornecedores, para cobrar preços mais altos para serviços tanto no Hospital Metropolitano, de Santa Rita, e no Hospital de Trauma, de Mamanguape.

As autoridades policiais afirmam ainda que houve uso eleitoral dos serviços de saúde, com direcionamento de atendimentos e fraude no concurso de pré-seleção de pessoal do Hospital Metropolitano no ano de 2018.

Coutinho não concorreu à eleição no ano passado, mas fez campanha para Azevêdo. Os dois, no entanto, estão rompidos politicamente e o atual governador deixou o PSB este mês.

Também foram alvo da operação integrantes do Tribunal de Contas do Estado (TCE), além de uma prefeita, deputados estaduais e um ex-procurador-geral do Estado.

Na mensagem que divulgou nas redes sociais, Coutinho disse ter sido “surpreendido” com o pedido de prisão e classificou a acusação de genérica. “Com a maior serenidade digo ao povo paraibano que contribuirei com a justiça para provar minha total inocência. Sempre estive à disposição dos órgãos de investigação e nunca criei obstáculos a qualquer  tipo de apuração”, afirmou.

O ex-governador também disse lamentar que a Paraíba “esteja presenciando o seu maior período de desenvolvimento e elevação da autoestima ser totalmente criminalizado”.

Já o PSB disse, em nota, que “como sempre”, iria apoiar as investigações, mas que reiterava sua confiança na conduta do ex-governador e demais investigado na certeza de que uma apuração isenta e justa resultará no pleno esclarecimento das denúncias”.

Procurada, a assessoria do governo da Paraíba afirmou que não iria se manifestar.