Título: Renúncia em pauta no Congresso
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2005, País, p. A3

Deputados do PT ameaçados de cassação esperam reunião da Mesa Diretora hoje para decidir se abrem mão dos mandatos

BRASÍLIA - Os sete petistas ameaçados de cassação correm contra o tempo para decidir se abrem ou não mão de seus mandatos. Eles esperam a reunião da Mesa Diretora da Câmara, marcada para a manhã de hoje, para decidirem seus futuros. Pelo menos dois deles ¿ Paulo Rocha (PT-PA) e José Mentor (PT-SP) ¿ consultaram suas bases eleitorais e receberam orientações para renunciar ao mandato, mas ainda estão em dúvida. Outros, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), prometem ir até o fim na luta. ¿ Não vou renunciar. Não tenho culpa. Mas não condeno quem optar por esse caminho, que é de foro íntimo ¿ afirmou o deputado.

Os petistas têm duas guilhotinas rondando suas cabeças. A primeira é a decisão da Mesa Diretora de enviar ou não os processos para o Conselho de Ética. A segunda é saber quando esse encaminhamento será feito, já que há possibilidade de isso só acontecer na semana que vem, devido ao feriado.

O presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), manifestou-se ontem favorável à separação dos processos contra os 13 investigados. Foi uma resposta a alguns deputados que defendiam a votação conjunta dos 13 parlamentares. Segundo Aldo, até nazistas tiveram direito a julgamentos individuais.

¿ A primeira vez que ouvi falar em processo coletivo estava relacionado a regimes ditatoriais. Quando o tribunal de Nuremberg (responsável pelo julgamento de líderes nazistas após a 2ª Guerra Mundial) julgou os acusados de genocídio pelo nazismo, todos tiveram direito a um processo individual ¿ argumentou Aldo.

Os deputados esperam conseguir mais tempo para decidir se renunciam para manter, em contrapartida, seus direitos políticos. A partir do momento em que forem abertos os processos no Conselho de Ética, não há mais chance de renúncia.

¿ A Mesa Diretora não agiu, até agora, de forma racional. Se o João Caldas (PL-AL) pedir vista do relatório, será bom para nós, pois teremos mais tempo para analisar as denúncias que pesam contra a gente ¿ defendeu Rocha, referindo-se ao deputado integrante da Mesa.

José Mentor (PT-SP) também admitiu estar encontrando dificuldades para se defender. Afirma que não pode ser enquadrado como mensalista porque os recursos recebidos por ele da SMPB, a agência de propaganda de Marcos Valério, são provenientes de serviço de advocacia prestado. Também não pode ser acusado de caixa 2 porque apresentou notas fiscais.

¿ Eu, sinceramente, não sei o que vou fazer ¿ lamentou.

Os sete petistas cassáveis ainda se preocupam com os rumos do PT após o segundo turno das eleições internas. Eles avaliam que, se Ricardo Berzoini (PT-SP) vencer, é sinal de perdão interno. Mas se for eleito Raul Pont, a situação dos cassáveis pode se complicar. Pont avisou que todos deveriam ser julgados pelo Conselho de Ética do partido e vai além: diz que, quem renunciar ao mandato para escapar da cassação, não teria legenda para disputar as próximas eleições.

Os petistas reuniram-se no final da tarde de ontem no gabinete de João Paulo Cunha. Paulo Rocha adiantou que a intenção é traçar uma estratégia conjunta a partir do encaminhamento do processo para o Conselho de Ética.

¿ Quando isto acontecer, saberemos ao certo do que seremos acusados. Cada caso aqui é um caso ¿ declarou o ex-líder do PT.

Independente do que acontecer daqui para frente, o deputado João Magno (PT-MG) já garantiu que ¿só Deus o fará o renunciar¿.