Valor Econômico, v.20, n. 4864, 23/10/2019. Política p.A10

 

Eduardo desiste de ser embaixador em Washington


Após a derrota com a confirmação de Eduardo Bolsonaro como líder do PSL, deputados da ala bivarista adotaram tom conciliador e pregam a pacificação do partido


Por Fabio Murakawa, Marcelo Ribeiro, Renan Truffi, Andrea Jubé e Assis Moreira

O líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP) anunciou ontem da tribuna da Casa que desistiu da embaixada do Brasil nos Estados Unidos. “É uma decisão que eu estava pensando há muito tempo, porque a maioria do meu eleitorado não era favorável à minha ida”.

Em Tóquio, durante a viagem à Ásia, o presidente Jair Bolsonaro, pai do parlamentar, já havia sinalizado que a embaixada brasileira em Washington será entregue ao diplomata Nestor Forster. Para que isso se concretizasse, faltava apenas o aval de Eduardo.

“Eduardo desistindo de que eu envie seu nome para o Senado, em vista da importância da política dentro do partido, Forster é um bom nome para ser consolidado”, afirmou, pouco antes de partir para a cerimônia de entronização do novo imperador do Japão, em horário equivalente à madrugada de ontem no Brasil. “Sua vivência de mundo para mim faz a diferença dentro do Parlamento, mas a decisão é dele”, afirmou.

No Congresso, Eduardo passou o dia se esquivando de responder se desistirá da embaixada nos EUA. “Ele [Bolsonaro] falou que a decisão é minha, não falou nada demais. A liderança, até onde sei, vai até o final desse ano. A embaixada não tem prazo. Optando por uma, naturalmente a outra se exclui, mas as decisões não estão tomadas”, disse à tarde.

A ala leal ao presidente Jair Bolsonaro fortaleceu ontem sua posição no PSL impondo derrotas ao grupo do presidente da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), na Justiça e dentro da bancada do partido no Congresso. Até mesmo parlamentares bivaristas admitiam que Delegado Waldir (GO), de quem Eduardo tomou a liderança, perdeu totalmente as condições de retornar ao posto depois de ter sido gravado chamando o presidente Bolsonaro de “vagabundo”.

O grupo foi atingido ainda pela decisão do juiz Alex Costa de Oliveira, da 6ª Vara Cível de Brasília do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), de conceder liminar que suspendeu processos disciplinares estabelecidos pelo PSL contra 19 parlamentares bolsonaristas, entre eles Eduardo.

A decisão judicial veio poucos minutos depois de o diretório nacional do partido ter anunciado oficialmente a abertura dos processos.

Os bolsonaristas recorreram à Justiça do Distrito Federal alegando que o anúncio de eventuais punições comprova “a perseguição promovida pelo partido”.

À tarde, na Câmara, Eduardo disse não acreditar na viabilidade de um nome de consenso para liderar o partido. “Acho que está caminhando para um momento de tranquilidade. Não acredito [em terceira via]. Estou levando a vida de líder até que, se por ventura vier outra lista ou alguma coisa, eu saia. A gente segue o regimento interno, mas eu acho que não vai prosperar”, disse

Após a confirmação de Eduardo, deputados da ala bivarista adotaram tom conciliador e pregam a pacificação do partido.

Coronel Tadeu (PSL-SP) disse ao Valor que basta de listas. Ele afirmou que quando passar a turbulência, Eduardo promoverá uma primeira reunião da bancada. “Todos nós estamos feridos, é o momento de passar mertiolate e gaze nas feridas”, afirmou o parlamentar, que apoiou Delegado Waldir na disputa com Eduardo.

Porém, nos bastidores, a informação era a de que Bivar ainda não havia desistido de retomar o posto perdido para o filho do presidente. Seu grupo passou boa parte do dia em reunião na sede do partido em Brasília para traçar estratégias.

Agora desafeto do clã Bolsonaro, o senador Major Olímpio (SP) ironizou ainda o possível desempenho de Eduardo em uma eventual uma votação secreta para definir quem ficaria com a liderança do PSL na Câmara. “Se fizer votação secreta, Eduardo não ganha. Se fizer aberta, também não. Se colocar um cone para disputar com ele, dá o cone”, disse Olímpio.