Título: Medo leva à cesariana
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2005, Saúde & Ciencia, p. A14

A dor, segundo especialistas, é um dos motivos que levam muitas grávidas a desistirem de tentar fazer um parto normal, resolvendo assim optar por uma cesariana. Isso acontece especialmente no Brasil, um dos países que mais realiza a cirurgia. Aproximadamente 35% dos bebês nascem desta forma, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo que em apenas cerca de 15% dos casos isso seria necessário.

- Essa taxa no Brasil é altíssima, se comparada aos países de primeiro mundo. Principalmente na rede privada, onde o índice chega a atingir 90%. Na Europa, países como França, Alemanha e Inglaterra têm um índice correspondente de cerca de 15% - informa Alexandre Trajano, professor de obstetrícia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). - Isso é um deturpação do que deveria ser feito.

A operação é necessária, entre outras razões, quando o feto está sentado, ou em outra posição inadequada.

O obstetra Marcos Vasconcellos aponta algumas razões para o fenômeno:

- As mulheres têm medo da dor, do desconhecido e do inesperado, já que parto normal não tem hora para acontecer - analisa o médico, que chama atenção para as desvantagens da operação. - A cesárea é dez vezes mais arriscada.

Para ele, outra questão que influencia o fenômeno é a pressão dos convênios de saúde por causa do custo e do tempo.

Segundo a pesquisadora e fisioterapeuta da Unicamp, Erica Passos Baciuk, muitas mulheres buscam a cirurgia temendo o sofrimento:

- Como se os pontos da operação não fossem doer depois do parto - comenta - A recuperação do parto normal é muito mais rápida, na cesárea o corte incomoda muito, a mulher tem gases. É um pós-operatório. Tudo isso causa limitações até nos primeiros cuidados com o bebê - comenta Erica, defensora assumida do parto normal.

A historiadora Lorelai Kuri já decidiu sua opção, vai fazer parto normal:

- A humanidade inteira nasceu assim, não vejo razão para fazer cesárea - afirma.