Título: Roubar para ser mais aceito
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2005, Rio, p. A15
Com planos de estudar na Inglaterra, por intermédio de uma organização não-governamental, Adriano Gonçalves de Oliveira, 22 anos, tenta passar a sua experiência de vida para outros meninos que moram nas ruas. O rapaz, que aos oito anos fugiu de casa, em Jacarepaguá, conta que buscava uma vida melhor. Ele morava numa pequena casa de madeira que, quando chovia, enchia de água. A realidade nas ruas, segundo Adriano, foi uma decepção. Depois de escolher ficar abrigado, Adriano mudou de vida. Atualmente, o jovem trabalha como porteiro na Remer. - Nas ruas, me via na obrigação de ter que roubar. Precisava mostrar que fazia parte do grupo. Mas, na verdade, eu queria estudar, ter uma casa legal, comida e brinquedo - disse Adriano.
O porteiro lembra que, acompanhado de outros meninos - na época da mesma idade - encontrou amparo na casa de passagem da Remer. Logo depois, foi para levado para um abrigo que fechou, e ele voltou para as ruas. Nesse período, o rapaz não encontrou ajuda nas instituições públicas. Ele lembra, no entanto, que no Natal de 1995 foi encaminhado pela Remer para um sítio da ONG, em Minas Gerais. No sítio, Adriano estudou, aprendeu culinária, agricultura e jardinagem.
Hoje, Adriano quase não tem contato com sua antiga família. Seu pai morreu, sua mãe desapareceu, ele ainda tem um irmão traficante.
- Tenho uma experiência triste e boa. Tento ajudar outros meninos contando minha história - orgulha-se Adriano.