Título: Quando se dribla até o destino
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2005, Rio, p. A15

Sem a ajuda prometida dos governos, instituições de assistência mostram que é possível tirar crianças das ruas e sonhar com futuro melhor

A infância não está totalmente perdida. Em meio ao deserto de idéias com o qual o Jornal do Brasil vem se deparando ao abordar a questão dos meninos de rua, há oásis em plena atividade, resgatando da marginalidade aqueles que nasceram com o destino já marcado pelo abandono. Mesmo com dificuldades pela falta de recursos, instituições não-governamentais têm conseguido livrar dos sinais e do tráfico crianças e adolescentes. Há 15 anos, a associação Refúgio de Meninos e Meninas de Rua (Remer-Rio), que sobrevive sem doações governamentais, acompanha os menores que vivem nas proximidades da Central do Brasil. Segundo o pastor Carlos Gonçalves, coordenador da Remer-Rio, a instituição conta apenas com a ajuda de uma fundação holandesa.

Para manter o trabalho dos educadores na rua, por meio do diálogo e encaminhamento dos menores, a Casa Nova Esperança (que funciona de segunda a sexta-feira com atendimentos básicos), e a Casa Betânia (um abrigo) a Remer recebe, mensalmente, R$ 14.500. O ideal, segundo o pastor, seria R$ 22 mil.

- Somos cadastrados na prefeitura e no Conselho Municipal de Assistência Social, mas, infelizmente, nem ajuda para alimentação dos meninos conseguimos - lamenta o coordenador da Remer.

Na casa de passagem, a instituição faz, diariamente, 25 atendimentos com alimentação e higiene.

Na casa-lar, a Remer dispõe de 12 vagas. Além do abrigo, a instituição insere os menores em cursos profissionalizantes, escola e faz encaminhamentos para o Conselho Tutelar e juizados da Infância e Adolescência. Conforme revelou o JB, um levantamento feito pelo vereador Nadinho de Rio das Pedras (PFL) identificou, nas ruas da Zona Oeste do Rio, 212 crianças inscritas em programas sociais que se mantêm trabalhando nas ruas. As mães dos adolescentes e conselheiros tutelares afirmam que há falhas nos projetos sociais. Há denúncias de que as famílias dos 6 mil menores inscritos no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), projeto do governo federal conduzido pela prefeitura, não estão recebendo o auxílio mensal prometido de R$ 40.

- A primeira coisa que se deve fazer para um programa social dar certo é motivar a criança. Muitos já perderam os laços parentescos e precisam de carinho - observa Gonçalves.

Segundo a defensora Simone Moreira, da Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, há a necessidade de maior fiscalização nos projetos sociais existentes. Ela lembra que, ainda este mês, deverá ser aprovado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária.

- Será feita uma reestruturação dos abrigos para menores de todo o Brasil - adianta a defensora.