Valor Econômico, v. 20, n. 4906, 21/12/2019. Política, p. A10
 

Presidente avalia mudanças em equipe ministerial
 Andrea Jubé

 

Após o recesso de fim de ano, quando pretende descansar uma semana em uma base militar na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro terá de resolver um complicado xadrez ministerial. Em meio à crise protagonizada pelo filho, senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), o presidente terá de fazer ajustes na equipe para recolocar nos trilhos pastas  estratégicas, como o Ministério da Educação (MEC), e tentar afinar a conturbada relação com o Congresso.

Desde que assumiu o cargo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, enfrentava a antipatia da ala militar e de setores técnicos do governo, que o consideram um show man das redes sociais, inabilitado para a função. Nas últimas semanas, entretanto, o presidente Bolsonaro confidenciou a interlocutores a irritação com o auxiliar.

O estopim foi a divulgação de um relatório técnico da Câmara dos Deputados há um mês, apontando a paralisia e a ineficiência do MEC. Ações relevantes como o Apoio ao Desenvolvimento da Educação Básica tiveram até julho execução orçamentária próxima a zero. No mesmo período, a pasta executou apenas 4,4% do volume reservado para investimentos.  Classificada como prioridade, a Política Nacional de Alfabetização não foi implementada.

Bolsonaro continuará elogiando publicamente o ministro, que tem o respaldo de seus filhos e da ala ideológica do governo. Mas começou a buscar um perfil técnico para a pasta. Um dos consultados foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem ligações com o setor: sua irmã, Elizabeth Guedes, é executiva na área do ensino superior privado.

Em outra frente, Bolsonaro sofre pressão de lideranças do Congresso pela substituição do ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política.

Um dos nomes vistos com simpatia pelo Congresso para o lugar de Ramos é o do ex-deputado Alberto Fraga (DF), que atua nos bastidores como conselheiro de Bolsonaro. Um dos obstáculos é que Fraga é filiado ao DEM: sua nomeação daria à sigla - que afirma não integrar a base do governo - o quarto ministério no governo.

Lideranças do Centrão, o maior bloco parlamentar, alegam que a articulação política do governo é nula e acusam Ramos de impor constrangimentos aos líderes de bancadas. Um episódio envolveu o líder do Republicanos, Jhonatan de Jesus (RR).

Em meio às cobranças pelas “emendas discricionárias” - que o governo prometeu pagar além das emendas impositivas - Ramos entregou ao deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP) a relação dos contemplados, em aberto constrangimento ao líder que pelo cargo é quem deveria ter acesso à lista. Russomano é desafeto de Jhonatan na bancada.

Apesar dos rumores da saída de Ramos, não há expectativa na cúpula do Exército que ele volte à ativa porque isso comprometeria as promoções já definidas para general de Exército. Em março, por exemplo, o general Valério Stumpf assumirá o Comando Militar do Sul - um dos postos mais cobiçados do Exército - abrindo a vaga de Secretário de Economia e  Finanças.

Essa vaga é reservada ao oficial que será promovido a general quatro estrelas em março. Um oficial pondera que se Ramos deixar o ministério, teria que assumir a contragosto esse posto de perfil burocrático: um rebaixamento já que ele deixou o Comando Militar do Leste para entrar para o governo.

Nessa conjuntura o nome de Ramos foi aventado par assumir a Embaixada do Brasil em Israel, onde ele foi adido militar. Bolsonaro quer substituir embaixador Paulo César de Vasconcellos que representa o Brasil em Tel Aviv, mas o chanceler Ernesto Araújo quer emplacar no posto um diplomata de carreira.

Para preservar Ramos surgiram rumores de que Bolsonaro poderia recriar o Ministério da Segurança Pública para acomodar Fraga, que é oficial reformado da Polícia Militar. Mas o presidente foi desaconselhado a criar atrito com o ministro da Justiça, Sergio Moro, que teria a pasta esvaziada.

A avaliação no núcleo próximo de Bolsonaro é de que é melhor manter Moro por perto, com as ofertas de uma vaga no Supremo Tribunal Federal ou de vice na chapa presidencial de 2022. “Se ele [Moro] for trair, que seja lá na frente”, observa um interlocutor de Bolsonaro, caso Moro lance o nome na corrida presidencial.

Ao Valor, Ramos reafirmou que não deixará o ministério. Ele atribui os constantes rumores sobre sua saída às intrigas palacianas. Afirma que desperta ciúmes por causa de sua relação longeva com o presidente. Conta que nos anos 70, não foi apenas “contemporâneo” de Bolsonaro na academia militar. “Fomos

Bolsonaro também tem demonstrado irritação com dois gaúchos de seu time, os ministros da Cidadania, Osmar Terra, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Não fez acenos, entretanto, de que os substituirá no curto prazo.

O presidente ficou contrariado com o que considera uma “aproximação excessiva” de Osmar Terra em relação à primeira-dama Michelle Bolsonaro. A pasta da Cidadania abriga o programa “Pátria Voluntária”, coordenado pela primeira-dama.

Terra quis repetir com Michelle a espécie de tutela que lhe foi confiada pelo ex-presidente Michel Temer em relação à primeira-dama Marcela Temer, que também despachou em uma sala no ministério. Michelle, entretanto, passará a despachar em uma sala no terceiro andar do Planalto.

Quanto ao chefe da Casa Civil, Bolsonaro, após vetar alguns dos acordos negociados por ele durante a votação da reforma da Previdência, retirou do auxiliar a função de articulador político. Agora o presidente tem confidenciado a interlocutores mais próximos o incômodo com Lorenzoni por acreditar que ele está dedicando mais energia ao projeto  político do auxiliar no Rio Grande do Sul, seu reduto eleitoral, do que à defesa do governo. Não deu sinais, entretanto, de que o substituirá no cargo.