O Globo, n. 32646, 24/12/2022. Política, p. 4

Sinal verde

Bianca Gomes
Manoel Ventura


No que classificou como "uma boa conversa" que teve ontem com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ex-ministra Marina Silva foi convidada e deverá ser anunciada na semana que vem a ministra do Meio Ambiente do novo governo. Seu retorno ao cargo que já ocupou no primeiro governo Lula virou o desfecho mais provável de um xadrez que inclui também o destino da senadora Simone Tebet (MDB), cujas opções para integrar a gestão petistas passaram a ser Cidades ou Planejamento. As duas são as nomeações que mais simbolizam o caráter de frente ampla que o petista diz pretender dar ao governo. Lula conversou com as duas, separadamente, ontem, em Brasília. Inicialmente, o desenho imaginado pelo petista para acomodá-las seria ter Simone Tebet como ministra do Meio Ambiente e Marina chefiando a Autoridade Climática a ser criada. A ideia esbarrou, porém, na resistência da ex-ministra em assumir o novo posto. Marina defende, como também publicou numa rede social, que a Autoridade Climática deve ser "um cargo vinculado ao ministério do Meio Ambiente". Assim, Lula deixou a conversa com a ex-ministra na situação em que ou a teria como ministra ou não a teria no governo, o que seria uma má sinalização dada sua representatividade no Brasil e no exterior, além da reconciliação que ambos tiveram na campanha eleitoral. À noite, pessoas próximas ao petista afirmaram ao GLOBO que Lula estava convencido a nomeá-la ministra. Agora, o petista precisará resolver a situação de Tebet. Na conversa que teve com a senadora, pela manhã, Lula chegou a oferecer a pasta de Meio Ambiente. Com o desfecho pró-Marina encaminhado, restaram as opções de Cidades, já prometida para seu partido, o MDB, e Planejamento, cargo a que, a princípio, a emedebista resiste a aceitar. Interlocutores de Marina afirmam que ela foi convidada por Lula para a Autoridade Climática, em que funcionaria como uma espécie de embaixadora do país para questões como o combate ao aquecimento global, e que recusou a oferta. Em seguida, Lula ofereceu a volta ao Meio Ambiente, o que sempre foi o desejo da deputada eleita. Na conversa com Lula, Marina argumentou novamente, destacam as fontes, que esta função, a ser criada pelo novo governo, deve ser ocupada por um quadro técnico e não por alguém, como ela, interessada em formular políticas públicas para a área. Também participaram do encontro, como informou a colunista do GLOBO Míriam Leitão, o futuro ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), e a presidente do PT, Gleisi Hoffman.

A recusa de Marina à solução primeiramente pensada por Lula deságua no adiamento da definição do espaço que caberá a Tebet. Ao ser convidada para o Meio Ambiente, ela disse que aceitaria o cargo, mas desde que Marina também concordasse com a configuração, o que não ocorreu.

Agora, Lula trabalha em outro cenário para a senadora. Desde a vitória do petista, Tebet sinalizou que teria interesse em três ministérios: Desenvolvimento Social, pasta que o PT não abriu mão por incluir o Bolsa Família; Educação, que também terá um titular petista; e o Meio Ambiente. Apenas ontem, porém, ela teve um encontro pessoal com o presidente eleito. Foram dois, na verdade. Lula e Tebet se reuniram pela manhã, antes do presidente eleito conversar com Marina, e depois voltaram de Brasília para São Paulo no mesmo avião. Durante o voo, Lula sondou a senadora para o cargo de Planejamento. Seu nomeação na área econômica agrada, ainda, ao futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, interessado na possibilidade de Tebet facilitar o diálogo com setores mais liberais do empresariado. A senadora, porém, resiste a compor o time econômico, área em que costuma dizer que estão suas maiores divergências com Lula e o PT. Pessoas próximas a ela afirmavam, à noite, que uma decisão sobre seu destino só deverá ocorrer na segunda-feira.

Impasse no MDB

A outra possibilidade é o ministério de Cidades, pasta prometida por Lula ao MDB, além de Transportes. O presidente eleito acertou com o partido que uma indicação pertencerá à bancada da Câmara e outro, à do Senado. O último nome já é de consenso na sigla: o ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho para Transportes. O nome da Câmara para Cidades, porém, é objeto de um racha entre os deputados emedebistas. Embora tenha despontado como favorito inicialmente, o deputado federal José Priante (PA) sofre resistência do clã Barbalho. Um dos cotados para o ministério é Jader Filho, presidente do MDB no Pará e irmão do governador Helder Barbalho. Havia a expectativa de que o governador reeleito do Pará e o líder do partido na Câmara, deputado Isnaldo Burlhões Jr (AL), batessem ontem o martelo do indicado a Lula, em uma reunião que, no entanto, não ocorreu. A decisão será tomada, de acordo com fontes do MDB, até terça-feira. Se o impasse seguir, Tebet poderia surgir como a indicada para Cidades. A possibilidade, porém, já fez surgir movimentos contrários. Lideranças do União Brasil, que reivindica ficar com a pasta de Cidades, defendem junto ao futuro governo que, se a pasta ficar mesmo com o MDB, que o ministro seja outro nome, e não Simone Tebet. (Colaboraram Bruno Abbud e Eliane Oliveira).

"Tive uma boa conversa com o Lula sobre os rumos da política socioambiental do país. (A Autoridade Climática) defendo ser um cargo técnico vinculado ao Ministério do Meio _ Ambiente" Marina Silva, ex e provável futura ministra do Meio Ambiente