Título: Retaliação americana perde sentido
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2005, Economia e Negócios, p. A22

Embaixador minimiza pressão dos EUA e confia em permanência de isenção a exportadores brasileiros

O embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, afirmou ontem que os esforços já demonstrados pelo Brasil no combate à pirataria devem garantir a manutenção do país na lista de beneficiados pelo Sistema Geral de Preferências (SGP) dos Estados Unidos.

O SGP é um benefício concedido por nações desenvolvidas a alguns países emergentes, que garante tarifas reduzidas para a importação de certos produtos industrializados. Os EUA ameaçam o Brasil com a retirada das vantagens, devido à pirataria existente no país. Em 2005, o Brasil exportou aos EUA US$ 2,5 bilhões pelo SGP.

Abdenur lembrou que dias atrás o chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou que o ''extraordinário progresso'' do país na luta contra a falsificação de produtos torna sem sentido uma ameaça de retaliação.

- O governo criou uma comissão de combate à pirataria e o número de ações repressivas cresceu muito - afirmou o embaixador.

Abdenur preferiu não polemizar a respeito da ameaça feita na semana passada pelo secretário-adjunto de Estado dos EUA, Robert Zoellick, que, em visita ao Brasil, sugeriu que o país poderia ser excluído do SGP em virtude da ameaça brasileira de retaliar na Organização Mundial do Comércio o programa de subsídios americanos ao algodão.

Segundo Abdenur, o governo americano tem postura respeitosa às decisões da OMC, mesmo quando são contra os seus interesses.

- Eles se comprometeram a cumprir a decisão da OMC contra os subsídios do algodão. Apenas não o fizeram em tempo. Muitas destas coisas dependem do Congresso americano, onde o ritmo obviamente pode não se coadunar com os compromissos do governo e da administração - ressaltou o embaixador, que participou de palestra na Câmara Americana de Comércio do Rio de Janeiro.

Ainda ontem, os Estados Unidos anunciaram uma proposta de forte corte de 60% nos subsídios a seus produtores agrícolas como forma de destravar as negociações para uma maior abertura do comércio internacional.

Segundo o governo dos EUA, no entanto, a proposta só será levada adiante se Japão e países da União Européia concordarem em também reduzir seus subsídios em cerca de 80%.

- Os EUA estão dispostos a assumir parte da dor. Mas aqueles que subsidiam mais, precisam reduzir mais - afirmou o secretário de Comércio dos EUA, Rob Portman, referindo-se a Japão e UE.

A decisão é uma tentativa de destravar a Rodada Doha, que tem metas ambiciosas de abertura do comércio global.

Portman justificou o condicionamento da proposta a medidas semelhantes dos demais países com ricos:

- A União Européia usa cerca de três vezes mais subsídios do que nós - afirmou ele.

A UE já aceita reduzir subsídios de produtos como trigo, laticínios e arroz em até 65%. O comissário de comércio do bloco, Peter Mandelson, afirmou que a Europa vai fazer ''mais''' que os EUA.

Ainda ontem, os japoneses informaram que não vão aceitar a proposta americana.

- O Japão não pode aceitar a proposta americana de subsídios como base para negociar porque a redução que Washington quer fazer é insuficiente - disse o ministro da Agricultura do Japão, Mineichi Iwanaga.

A proposta dos EUA foi recebida de forma cautelosa pelo Brasil. O chanceler Celso Amorim disse que o plano é ''um passo na direção certa'', mas que ''há espaço para melhorá-lo''.

- Não é o que nós queremos, mas pode fazer com que as coisas se movam. É positivo, mas não creio que seja suficiente - disse Amorim.

Com agências