Valor Econômico, v. 20, n. 4908, 27/12/2019. Brasil, p. A4
 

Analistas projetam superávit comercial de US$ 37 bi em 2020
Marta Watanabe 

 

A balança comercial deve encerrar o próximo ano com superávit comercial de US$ 37 bilhões, segundo a mediana das projeções de 30 consultorias e instituições financeiras levantadas pelo Valor Data. A estimativa deve representar queda em relação ao saldo comercial de 2019. Até a terceira semana de dezembro, o resultado positivo da balança brasileira foi de US$ 44,77 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME).

O saldo projetado para o ano que vem pelo Valor Data é resultado de US$ 230 bilhões em exportações e de US$ 192 bilhões em importações. As estimativas indicam que, na mediana, a redução de superávit deverá ser resultado de um crescimento maior dos desembarques em relação aos embarques. Até o acumulado da terceira semana de dezembro, as exportações brasileiras somaram US$ 219,5 bilhões e as importações, US$ 174,7 bilhões.

Dentre as 30 estimativas de saldo comercial levantadas pelo Valor Data, o maior superávit projetado é de US$ 48 bilhões, do Banco Fator. O outro extremo ponta fica com o Banco Mizuho, que projeta saldo positivo de US$ 25 bilhões.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também tem projeção mais pessimista que a mediana do Valor Data. José Augusto de Castro, da AEB, diz que a projeção da entidade é de que a balança termine 2019 com superávit de US$ 45,2 bilhões. Para o ano que vem, a estimativa é de que o saldo positivo caia 42,2%, para US$ 26,13 bilhões. Esse saldo deve resultar de US$ 217,34 bilhões em exportações e US$ 191,21 bilhões em importações. Pelas estimativas da AEB, os embarques em 2020 cairão 3,2% em relação a este ano. As importações do ano que vem devem ir em sentido oposto, com alta de 6,6% em relação a 2019.

José Augusto de Castro diz que o crescimento das importações está relacionado com a expectativa de aceleração da economia doméstica a partir do ano que vem. “Se as projeções de crescimento do PIB de cerca de 2,5% se confirmarem, teremos importações também em recuperação maior”, diz ele, ressaltando que os desembarques costumam avançar em ritmo maior que a expansão da economia.

Castro lembra que uma recuperação das importações era já esperada para o decorrer de 2019, mas essa expectativa se frustrou. Segundo dados do governo, até a terceira semana de dezembro os desembarques somaram US$ 174,7 bilhões, com queda de 3,2% em relação a igual período de 2018, na média por dia útil. O presidente da AEB destaca também que as  importações perderam força nos últimos anos em razão da recente recessão e ainda estão longe dos níveis mais elevados. Em 2013, as importações de janeiro a novembro chegaram a US$ 221,47 bilhões, também segundo a Secex.

No cenário internacional, diz Castro, as projeções para 2020 consideram a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Os acordos tarifários entre os dois países podem afetar os embarques brasileiros. Nas exportações, as projeções da AEB apontam queda de 1,7% nas vendas externas de básicos e de 4,8% nos industrializados em 2020, em relação a este ano. Nos básicos a queda é puxada principalmente pelo petróleo, com redução de 23% no valor exportado em relação a este ano, principalmente, diz Castro, em razão de queda de preços.

Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge, tem análise semelhante. Além da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, ele destaca o efeito da economia argentina, importante mercado para manufaturados brasileiros. “Se a Argentina tomar medidas muito protecionistas, ficará mais difícil a retomada dos embarques ao país.” Ele lembra ainda que no ano que vem não deve haver crescimento do comércio internacional, embora seja esperada a elevação das importações brasileiras em razão da recuperação da economia doméstica. “Isso significa estabilidade nas exportações brasileiras e crescimento das importações.”