Título: No dia da Padroeira, bispos atacam política econômica
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/10/2005, País, p. A2

Um dia depois do vice-presidente, José Alencar, comparar os juros altos da economia a ''um pacto com o diabo'', o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Azevedo, disse que a política econômica do governo Lula ''não é coisa de Deus''. O religioso fez a declaração durante uma missa para cerca de três mil fiéis que comemoravam o dia de Nossa Senhora Aparecida. Dom Walmor fez fortes críticas ao Planalto e deu aviso: se Lula nã cumprir o acordo sobre a transposição das águas do Rio São Francisco, será ''o fim do governo''.

- Toda vez que a organização ou a remodelação do modelo econômico não leva em conta os mais pobres, nós podemos dizer que isso não é de Deus. Porque tudo que é de Deus é por aqueles mais fracos e mais pobres - atacou.

O arcebispo convocou a participação da igreja e de grupos sociais organizados para atuar nas mudanças que o país necessita. Ele afirmou que o atual cenário político exige uma ''cidadania diferente'', porque a ''atuação do presidente e de parlamentares não basta''. D. Walmor defendeu a revitalização do rio São Francisco e se opôs às obras de transposição. Ele também afirmou que espera o cumprimento do acordo que o governo fez com o bispo de Barra (BA), Luiz Flávio Cappio.

O religioso baiano também participou da comemoração do dia da padroeira do Brasil. Ontem, em São Paulo, ele afirmou que a greve de fome que fez durante 11 dias foi um gesto para ''resgatar'' o presidente Lula, que ''se projetou como sindicalista e homem dos pobres'', mas, se tornou ''refém do capital''.

- Durante minha vida inteira vesti a camisa do Lula. Meu gesto, agora, é ajudar o presidente da República a se resgatar do confinamento ao qual está preso. O seqüestro do capital conseguiu envolvê-lo e ele saiu dos seus objetivos. Nesse meu gesto está embutida ajuda para resgatar a postura de um homem dos pobres - disse Cappio.

O bispo deu a entender que poderá voltar ao jejum se o governo não cumprir a sua parte na promessa.

- Quero preservar a minha honorabilidade, a minha honestidade. Espero que o governo tenha a mesma honorabilidade para respeitar o que foi firmado - disse o bispo.

Mesmo admitindo ''profunda restrição e tristeza'' em relação ao governo, ele disse que ''ainda tem fé'' em reverter uma obra ''endereçada às grandes empreiteiras, ao agronegócio e às elites locais'', e que não responde às necessidades do povo do semi-árido''.