Título: No Brasil, troca de denúncias de corrupção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, País, p. A3

A disputa antecipada pela sucessão presidencial envolvendo o PT e o PSDB teve mais uma batalha ontem, com troca de acusações de corrupção de um lado e de críticas pessoais de outro. PT, PC do B e PSB assinaram um documento de críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso. Paralelamente, o governador tucano Geraldo Alckmin manteve longo encontro em São Paulo com o presidente do PMDB no Rio, Anthony Garotinho, que disputa a prévia do partido para definir o candidato ao Planalto em 2006. Segundo aliados, a reunião faz parte de uma nova estratégia de Garotinho de amenizar críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, e centrar os ataques no tucano José Serra. Para isso, quer apoio de Alckmin, que disputa com Serra a legenda.

A mudança do alvo de Garotinho tem razão de ser. Pesquisa do Ibope divulgada ontem, mostra que Serra venceria Lula no segundo turno, de 44% a 38%. Mas Lula ganharia de Alckmin (43% a 33%) e de Garotinho (44% a 29%), se as eleições fossem hoje.

Mesmo com as críticas fortes da oposição, o Ibope mostrou pequeno aumento da avaliação positiva de Lula, ainda dentro da margem de erro de 2,2%. A aprovação passou de 45% em agosto para 46% em setembro.

Na relação entre governo, PT e oposição, até o ex-ministro Pedro Malan, atual presidente do Conselho de Administração do Unibanco, entrou na briga. Reagiu com indignação às insinuações do presidente do PT, Ricardo Berzoini, de que teria garantido o cargo num banco privado com a a venda do Banco Nacional.

¿ Não reconheço no senhor Berzoini autoridade para me dar lições de ética, ou estatura para me dar lições de moral ¿ desfechou Malan.

O ex-ministro ameaçou processar Berzoini judicialmente e acrescentou: ¿O comentário a meu respeito mantém a tradição de leviandade, irresponsabilidade e gratuita ofensa pessoal que marca o comportamento de certas figuras do mundo da política.

Na quinta-feira, o novo presidente do PT ao responder ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) ¿ que o chamou de covarde ¿, atacou Malan. Berzoini afirmou que, enquanto Malan era ministro, o Banco Nacional, sob intervenção federal, foi vendido por ¿preço irrisório¿ ao Unibanco.

O PT manteve a ofensiva contra o PFL, ao entrar com pedido de cassação do mandato do deputado Ônix Lorenzoni (PFL-RS), que acusou o ex-ministro José Dirceu de sonegar imposto de renda.

Em outro front de batalha, os partidos de esquerda que formam a base aliada do governo Lula divulgaram ontem nota dizendo que a corrupção no Brasil foi acelerada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, com as ¿privatizações selvagens¿ e pelos financiamentos ilegais das campanhas eleitorais. FH está viajando e não foi encontrado para responder.

A nota é assinada pelos presidentes do PT, Tarso Genro, do PC do B, Renato Rabelo, e do PSB, Roberto Amaral. Afirmam o compromisso em torno de ¿um projeto nacional conjunto¿, pela defesa do presidente Lula e pelo aprofundamento das investigações para combater a corrupção.

A nota dos governistas acusa FH, mas ignora as denúncias de corrupção contra integrantes do PT e o ¿mensalão¿.

Os partidos se definem como ¿núcleo de esquerda da base do governo¿ e coincide com iniciativas recentes do Palácio do Planalto para tentar anular ataques da oposição.

A nota das três legendas coincide com o pedido do presidente Lula de maior agressividade no embate com adversários. Mas a defesa da política econômica do governo ficou de fora.