Valor Econômico, n. 4951,
03/03/2020. Especial, p. A14
OCDE pede ação forte e
rápida contra a crise do coronavírus
Assis Moreira
O coronavírus representa o maior perigo para economia mundial desde a grande
crise financeira de 2008/2009 e pode reduzir pela metade o crescimento global
neste ano, alertou ontem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE).
No melhor cenário, o
crescimento mundial cairá 0,5 ponto percentual e ficará em 2,4%. Mas, se a
crise do vírus se ampliar e o impacto econômico for pior, a expansão global
pode ficar em só 1,5%.
A entidade conclamou os
governos a agir “com força e rapidez” para conter a epidemia e seu impacto
econômico, com medidas que incluem redução de impostos, flexibilidade no
mercado de trabalho e facilitação de crédito para os setores afetados
globalmente.
Diversos governos já
anunciaram planos de estímulo econômico. O Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional (FMI) anunciaram ontem que estão prontos a atender emergências
financeiras para países mais vulneráveis.
A OCDE aponta impacto
adverso sobre a confiança, os mercados financeiros, o setor de viagens e
disrupção nas cadeias de valor, que levaram à revisão para baixo em quase todas
os países do G-20.
No melhor cenário, o
crescimento da economia global deve cair para 2,4% neste ano, ante a projeção
anterior de 2,9%, que já era fraca. Isso ilustra como a contração da produção
na China está sendo sentida no mundo todo, refletindo o papel-chave e crescente
da China nas cadeias globais de valor, viagens e mercados de commodities, diz a
OCDE. Assim, a epidemia acaba tendo efeitos similares em outras economias,
embora em menor escala.
A OCDE estima ainda que
este primeiro trimestre poderá ter até resultado global negativo.
No caso da China, a
revisão foi forte, com o crescimento caindo para menos de 5% neste ano, queda
de 0,8 ponto percentual. Mas, para 2021, o país pode voltar a crescer mais de
6%, à medida que a produção recupere gradualmente os níveis de antes da
epidemia.
Japão, Coreia do Sul e
Austrália serão particularmente atingidos, devido à ligação mais forte com a
China. A OCDE nota que, se a crise causada pelo vírus for contida, o impacto
nas economias mais expostas pode então ser positivo e ajudar o PIB global a
crescer 3,3% em 2021, ou 0,3 ponto porcentual a mais que previsto em novembro.
No entanto, se a
intensidade da epidemia persistir, com contágio crescente em outras partes da
Ásia, Europa e América do Norte, a perspectiva piora. Uma epidemia de grande
amplitude pode causar recessão no Japão e na zona do euro e estagnação nos EUA.
Por isso a
economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, insistiu na importância de mais
estímulos. Ele destacou que políticas macroeconômicas de apoio podem ajudar a
restaurar a confiança e na recuperação da demanda, à medida que o surto
diminuir. Mas admite que isso pode não compensar a disrupção imediata que
resultou em fechamentos de fábricas e restrições a viagens, por exemplo.
A OCDE defende que
trabalho flexível seja usado para preservar empregos. Sugere que os governos
implementem medidas temporárias de redução e adiamento de pagamento de impostos
para a maioria dos setores afetados, incluindo viagens, eletrônicos e
automotivo. Nos países mais atingidos, propõe liquidez adequada para
permitir aos bancos ajudar as empresas com problemas de fluxo de caixa,
enquanto as medidas de restrições continuarem. E o setor público precisa
reduzir os atrasos de pagamentos ao setor privado.
Em termos macro, a
entidade sugere expandir a liquidez para os bancos; assegurar que a
política monetária responda a condições extremas dos mercados; e reforçar
investimentos públicos.
Na Itália, que sofreu o
17º mês consecutivo de declínio da atividade industrial, o governo anunciou no
domingo plano de injetar € 3,6 bilhões na economia. O governo alemão, que prima
por defender controle nas finanças públicas, diz agora que examina um
pacote de estímulos, se o coronavírus se tornar uma crise global.
No Reino Unido, o Banco
da Inglaterra acenou com “todos os passos necessários para proteger a
estabilidade financeira e monetária”. O Federal Reserve, BC americano, já deu
sinais de que vai agir de modo “apropriado” para apoiar o crescimento. E o
Banco do Japão promete injetar liquidez nos mercados e comprar ativos,
indicando que entrou no ritmo anticrise.