O Globo, n. 32651, 29/12/2022. Política, p. 6

MDB garante três ministérios na nova gestão

Geralda Doca
Sérgio Roxo
Paula Ferreira


O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo para contemplar o MDB no seu governo. Ele deve anunciar hoje o senador eleito Renan Filho (AL) para o Ministério dos Transportes, que será desmembrado da pasta da Infraestrutura, e o presidente do partido no Pará, Jader Filho, para o Ministério das Cidades, que hoje compõe o Desenvolvimento Regional. A senadora Simone Tebet (MS) comandará o Ministério do Planejamento, mas é considerada da cota pessoal de Lula.

A decisão foi tomada em reunião na tarde de ontem entre o presidente eleito e os caciques do MDB. Compareceram o presidente da legenda, deputado Baleia Rossi (SP), o líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr (AL), o governador do Pará, Helder Barbalho, além de Renan Filho.

Segundo Isnaldo, a reunião sacramentou o ingresso do MDB na base do futuro governo:

— Estamos imbuídos desse sentimento para ajudar o Brasil. Vamos trabalhar para consolidar a base do governo no Congresso, eu na Câmara e Eduardo Braga no Senado — afirmou o parlamentar ao GLOBO, após a reunião.

Impasse resolvido

Havia um impasse em relação ao próximo titular do Ministério das Cidades, que também vinha sendo cobiçado pelo União Brasil, outra legenda que negocia o apoio ao futuro governo. Além disso, dentro do próprio MDB havia uma disputa para definir quem ocuparia a vaga. Concorria com Jader Filho, que é irmão do governador do Pará, o deputado federal José Priante (PA), que tinha mais apoio da bancada na Câmara.

A pasta de Cidades é visada por ter ações na ponta, que podem se reverter em ganhos eleitorais. Uma das iniciativas sob o guarda chuva do ministério é o programa Minha Casa, Minha Vida. A distribuição de imóveis país afora rende capilaridade e exposição positiva ao titular da cadeira.

Historicamente, o senador Jader Barbalho, pai de Jader Filho, faz parte do núcleo mais fiel de apoiadores de Lula dentro do MDB. Além disso, Helder Barbalho, foi um dos fiadores da ida de Jader Filho para a pasta.

Ex-governador de Alagoas, Renan Filho, que comandará o Ministério dos Transportes, também é aliado de primeira hora de Lula, assim como seu pai, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Os dois apoiaram o petista desde a pré-campanha, mesmo com a candidatura de Simone Tebet ao Palácio do Planalto.

Lula chegou a sondar Renan Filho para o Planejamento, mas o senador eleito, assim como o MDB, preferia uma pasta com orçamento robusto e com capacidade de entrega de obras, o que pode ser revertido em dividendos políticos. A indicação desagrada o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adversário político dos Calheiros em Alagoas.

Anteontem Lula já havia destravado a participação de Tebet no governo. O apoio da senadora, que ficou em terceiro lugar na disputa pelo Planalto, foi decisiva para o petista no segundo turno. A emedebista é um dos principais símbolos da frente ampla que apoiou Lula para a Presidência.

Tebet queria comandar o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, e chegou a compor o grupo de trabalho correlato na transição. O PT, no entanto, se opôs à indicação da senadora para essa pasta, temendo sua projeção política com vistas à eleição presidencial de 2026. O Desenvolvimento Social acabou ficando com o senador eleito Wellington Dias (PT-PI). Tebet chegou a ser cotada para o Meio Ambiente e para Cidades.

Aliados da emedebista chegaram a negociar turbinar o Planejamento, que ficaria responsável pelo Programa de Parceria de Investimentos (PPI) e pelos bancos públicos. O acordo fechado prevê , porém, apenas a participação da futura ministra no comitê gestor do PPI, que continuará vinculado à Casa Civil.