Título: Quando o futebol invade o plenário
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/10/2005, País, p. A4

Os processos de cassação e a votação da MP do Bem não foram os únicos temas polêmicos a dominar a pauta da Câmara nesta semana. Vice-líder do governo e conselheiro do Internacional de Porto Alegre, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) pediu ontem, em discurso no plenário, que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afaste Luiz Zveiter do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo Albuquerque, a decisão de Zveiter, que é presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), de cancelar os 11 jogos do Campeonato Brasileiro de futebol arbitrados por Edilson Pereira de Carvalho, não tem amparo legal. Para o deputado, Zveiter deu uma ''canetada'' e está sob suspeição.

- Ele deu um golpe no Campeonato Brasileiro, prejudicando times tradicionais como o Inter e beneficiando quem não merecia estar na liderança - disse Albuquerque, referindo-se ao Corinthians.

De norte a sul Anteontem, o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE) também protestou contra a arbitragem. Ele afirmou, no plenário, que recorrerá à Justiça e à polícia caso Náutico e Santa Cruz sejam prejudicados na reta final da segunda divisão.

Termômetro da crise Apesar de o plenário estar apinhado de oposicionistas, apenas o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) aplaudiu o anúncio de que a Mesa Diretora resolveu encaminhar os processos de cassação ao Conselho de Ética da Câmara.

Ajuda divina O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) não se apega apenas a argumentos para se livrar da cassação. Ontem, ele afirmou que não tira da carteira uma ''santinha'' que ganhou de presente de um amigo.

Inimigo público O senador Romero Jucá (PMDB-RR) entrou na lista negra da Câmara. É apontado como um dos responsáveis pela morte precoce da MP do Bem, por ter incluído a regra que alteraria os Juizados Especiais e prejudicaria aposentados, que têm dinheiro a receber da União por decisão judicial.

Outro contrabando? No Judiciário ninguém tem dúvidas de que o governo tentará mais uma vez mexer no prazo dos pagamentos de sentenças, julgadas pelos Juizados Especiais. Hoje, o prazo é de 60 dias. Mas a Fazenda quer que o dinheiro seja liberado só conforme o Orçamento.

Armistício O ministro Saraiva Felipe, da Saúde, chamou ontem a seu gabinete o deputado Wilson Santiago (PB), líder do PMDB na Câmara. Na segunda-feira, o Informe publicou que o partido queria a saída de Felipe, da Esplanada.

Armistício 2 A reclamação era que Felipe não atendia aos pedidos dos parlamentares. Nem de oposição nem de situação. Pois agora, ele tem elementos para provar o contrário. Santiago levou ao ministro uma série de reivindicações de prefeituras.

Luz amarela Ainda não foi divulgada nenhuma pesquisa sobre o plebiscito da proibição da venda de armas. Mas os partidários do ''Sim'' no Congresso começam a admitir que podem perder nas urnas no dia 23.

Ninguém entendeu Até tucanos de destaque estranharam o ataque desferido por José Serra contra o deputado Ricardo Berzoini (SP), líder na disputa pelo comando petista. Afinal, a eleição é para ver quem presidirá o PT e não o partido do prefeito paulistano.

Apostas Amigos e partidários de Fernando Henrique Cardoso dizem que não tem mais volta. Ele já estaria decidido a disputar o governo de São Paulo. E faria dobradinha com Serra, que tentaria o Palácio do Planalto.

Perguntar não ofende Onde estava a base do governo na Câmara ontem?

A debandada geral Mal ficou claro que a MP do Bem seria abandonada e os deputados que ainda estavam em Brasília, ontem, começaram a sair com muita pressa em direção a seus gabinetes.

Muitos deles, quase correndo, miravam nos relógios de pulso em busca da hora. Pudera. Havia chegado o momento de decolar para as chamadas bases eleitorais. Em menos de cinco minutos do encerramento da sessão, o plenário estava vazio.

Jogo Rápido

Agora que a MP do Bem é coisa do passado, o governo tentará aprovar a Medida Provisória 258, também considerada prioritária. Trata-se do texto que cria a Super-Receita. Mas pelo que se depreende dos bastidores, o Planalto não terá vida fácil no plenário.

A idéia de que o governo poderia enviar ao Congresso um projeto de lei com o mesmo teor da MP do Bem nasceu morta. Entre as bancadas ninguém acredita que haja condições para aprovação de uma proposta complexa como esta até o fim do ano. SÉRGIO PRADO (Com equipe)