Valor Econômico, n. 4952,
04/03/2020. Brasil, p. A5
País amplia mercado e
busca solução contra escassez de crédito em defesa
Daniel Rittner
As exportações brasileiras na área de defesa devem ter um crescimento de pelo
menos 30% em 2020, segundo projeções do Ministério da Defesa. No ano passado,
elas tiveram aumento de 32% e atingiram US$ 1,23 bilhão - um recorde no
setor. O governo acredita que esse valor subirá para um patamar entre US$ 3
bilhões e US$ 4 bilhões em 2023.
O secretário de Produtos
de Defesa, Marcos Degaut, afirma que nenhuma outra indústria tem um efeito
multiplicador tão grande na economia. Para cada R$ 1 investido, outros R$
9 são alavancados. A maioria dos projetos envolve mão de obra ultraqualificada
e forte arrasto tecnológico.
Há fortalecimento da
presença brasileira em equipamentos de defesa na América Latina e abertura de
mercados no Oriente Médio. Países da África fecharam contratos para a compra de
sistemas de patrulhamento e proteção das fronteiras. A Taurus venceu a primeira
fase de uma licitação para vender 11,5 mil fuzis ao Exército das Filipinas e
estrutura uma joint venture na Índia para a fabricação e comercialização
local de armas.
“Temos uma estratégia
global e um planejamento composto por quatro eixos: político-estratégico,
econômico-comercial, sócio-político e científico-tecnológico. Não são ações
isoladas”, afirma Degaut.
A base industrial de
defesa tem cerca de 1.100 empresas no Brasil, das quais 114 estão
cadastradas no Ministério da Defesa, com 285 mil empregos diretos e 850 mil
indiretos. Para avançar, porém, um dos principais gargalos a serem enfrentados
é o financiamento às exportações, incluindo a escassez de mecanismos como
seguros e garantias. Bancos comerciais normalmente resistem a oferecer esse
tipo de produto.
A ideia do governo para
superar essa restrição é criar um novo Banco de Defesa Nacional, que teria
capital 100% privado e aportes das próprias empresas exportadoras, mas com
articulação e direcionamento estratégico do Ministério da Defesa. No dia 20 de
fevereiro, a pasta assinou protocolo de intenções com o BNDES para estudar
iniciativas de apoio às exportações e nacionalização progressiva de
produtos.
Um trabalho mais
avançado é a criação de fintechs, para operações financeiras de menor vulto,
que também sigam o modelo de aportes privados e se voltem a “clusters” ou
projetos mais específicos. Um piloto das fintechs está em estágio avançado
junto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Assim
que estiver operacional, provavelmente em meados do ano, deverá apoiar projetos
desenvolvidos no interior paulista - sistemas de tecnologia da informação, de
veículos e plataformas terrestres estão no radar.
Na avaliação do
ministério, esse piloto pode ser uma espécie de embrião do Banco de Defesa
Nacional. “Um país não pode ser pacífico sem ser forte”, conclui Degaut, que
cita o barão do Rio Branco para enfatizar a importância da indústria de defesa.