Valor Econômico, n. 4952,
04/03/2020. Política, p. A10
Ambição desmedida de
Maia e Alcolumbre impôs recuo
Maria Cristina Fernandes
A vitória do Executivo na primeira batalha pela manutenção do veto aos R$ 30
bilhões adicionais de emendas impositivas se deu menos por mérito do presidente
Jair Bolsonaro e mais pelo demérito da ambição desmedida dos presidentes
das Casas, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, em fortalecer seus poderes com
vistas à renovação inconstitucional de seus mandatos.
Os parlamentares
arrancaram a execução impositiva das emendas individuais em 2015, quando a
ex-presidente Dilma Rousseff já estava nas cordas. No ano passado, ampliaram a
obrigatoriedade da execução para as emendas de bancada. Com o apoio, inclusive,
do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que, à época, ainda sonhava em ter o
respaldo dos parlamentares para sua candidatura à embaixada do Brasil em
Washington.
O apoio rimou com o
discurso ingênuo do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que caberia ao
Congresso fazer a alocação do Orçamento. O ministro, do alto de sua
inexperiência política, imaginava que seria capaz de desengessar o Orçamento
dos gastos obrigatórios levando os parlamentares a moderar suas demandas para
não deixar o país parar. A habilidade política do ministro rivaliza com a
do generalato palaciano que não é nem nunca será talhado para a negociação
parlamentar. Juntos, foram responsáveis pelo acordo que acabou derrubado pelo
presidente da República.
O Congresso se valeu da
ingenuidade e da inexperiência da tropa bolsonarista para querer tudo ao
mesmo tempo: manter o orçamento engessado, com 94% dos recursos comprometidos
com despesas obrigatórias, e ampliar de R$ 16 bilhões para R$ 46 bilhões volume
de gastos de alocação parlamentar. Isso num Orçamento que tem apenas R$ 126
bilhões livres de amarras constitucionais. Ministro que precisar fazer a
manutenção do banco de dados de sua pasta, por exemplo, teria que recorrer
a um parlamentar para viabilizá-la.
Os parlamentares se
valeram do despautério inconfidente do ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, o general Heleno Ribeiro, para misturar as prerrogativas
constitucionais do Congresso com a ampliação do poder de emenda. Mas uma coisa
é ofender o Poder Legislativo, como fez Heleno e a merecer rechaço geral da
nação. Outra é a captura do Executivo como refém das ambições pessoais dos
parlamentares. A presença de Bolsonaro no poder não legitima a inversão do
poder de governar. Pelo menos não com a Constituição que aí está.