Título: Defesa para os fazendeiros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A17
Secretários estaduais reagem à crítica de Lula aos criadores. Acordo para acabar com embargo ao MS é fechado sem consenso
BRASÍLIA - As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atribuindo a culpa pelo foco de febre aftosa no município de Eldorado (MS) aos pecuaristas, repercutiram negativamente entre as autoridades estaduais. Na quinta-feira, em Portugal, Lula negou que tivesse faltado dinheiro para a vacinação e atribuiu a responsabilidade de proteção do rebanho aos proprietários. Ontem, secretários estaduais de Agricultura criticaram o presidente pelas afirmações. - Lula está mal informado - disse o secretário Minas Gerais, Silas Brasileiro, para quem não houve recursos para a defesa sanitária este ano.
- Foi uma declaração infeliz. Lula deveria ter ficado calado. Quando ele diz que o problema é com o produtor, quer mudar o foco - comentou o secretário de Goiás, Roberto Balestra, que também negou ter recebido dinheiro para controle da doença.
De acordo com técnicos do Mato Grosso do Sul, o foco de aftosa pode ter vindo de gado contrabandeado do Paraguai, já que os índices de vacinação no país são próximos de 100%. As investigações não foram concluídas.
Ontem, 15 estados mais o Distrito Federal concordaram em derrubar as restrições à carne do Mato Grosso do Sul. Depois de cinco horas de reunião com representantes das unidades da federação, o Ministério da Agricultura anunciou que houve acordo para liberar a entrada da carne sul-matogrossense. O consenso, no entanto, pode não se transformar em realidade imediatamente, já que alguns estados resistem a aderir ao acordo.
No encontro, ficou determinado que a carne desossada e maturada das espécies suscetíveis à aftosa - bovinos, caprinos, suínos e ovinos - além de aves e pescados, não deverão ser alvo de restrição se provenientes de regiões além das áreas interditadas pelo ministério, que compreende um raio de 25 quilômetros ao redor do foco, na cidade de Eldorado (MS). No município, alguns frigoríficos concederam férias coletivas a seus funcionários. Produtos dos cinco municípios interditados - Eldorado, Japorã, Mundo Novo, Itaquiraí e Iguatemi - estão fora do acordo.
Na reunião, ficou decidido ainda que leite e derivados, além do couro, submetidos aos tratamentos sanitários determinados pelos órgãos internacionais também não serão proibidos. Para animais vivos, porém, o estado discutirá com cada uma das demais unidades da federação. O argumento do governo é que o embargo dentro do Brasil dificulta as negociações com os países que impuseram restrições.
O secretário de agricultura de Santa Catarina, Moacir Sopelsa, disse que o estado não permitirá, por enquanto, a entrada de carne sul-matogrossense antes de discutir com especialistas. O estado é o único estado considerado livre da aftosa sem vacinação. Sopelsa afirmou que se reunirá com representantes do Rio Grande do Sul e do Paraná - que também não concordaram com a liberação imediata - para decidir que produtos serão liberados.
- É uma condição que precisa ser protegida. Vamos seguir as normas da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) - disse Sopelsa.
O Ministério da Agricultura confirma 31 notificações de países que restringiram a carne brasileira. Além dos 25 países da União Européia, impuseram restrições, entre outros, Israel e África do Sul, Argentina e Chile, que só foram confirmadas pelo governo ontem, junto com o anúncio do embargo de Cuba à carne de porco. A maior preocupação é com a União Européia, que compra 30% da carne exportada pelo Brasil e proibiu a entrada de produtos do MS, São Paulo e Paraná. Juntos, esses estados exportam quase 80% de toda a carne vendida ao exterior.
Outra preocupação é com a Rússia, o maior importador de carne do Brasil. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, se reúne na próxima segunda-feira com autoridades russas, para convencer os países de que o Brasil conseguiu controlar o foco de aftosa. Ontem, representantes do Ministério estiveram na OIE. Segundo o secretário de defesa dos animais do Ministério, Gabriel Maciel, R$ 3,5 milhões foram liberados para ações de defesa sanitária no Mato Grosso do Sul. Outros estados, segundo ele, não receberam recursos porque não apresentaram um plano para aplicação da verba. Ele confirmou que os animais da propriedade atingida foram vacinados adequadamente. Ainda não há definição sobre quais serão as indenizações para a propriedade atingida.
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirmou que entrará com requerimento na Comissão de Agricultura da Câmara para uma audiência com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, com o objetivo de saber se a verba para vacinação foi liberada.