O Globo, n. 32593, 01/11/2022. Política, p. 5

Base ampliada

Jeniffer Gularte
Bruno Góes
Camila Zarur
Bruno Abbud
Gustavo Schmitt
Sérgio Roxo


Um dia após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do PT intensificaram a busca por interlocução política com outras siglas para ampliar sua base de apoio no Congresso. A presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou ontem ter reuniões marcadas a partir de hoje com presidentes de partidos de fora da coligação que elegeu Lula para discutir a transição para o novo governo. Em entrevistas ao longo do dia, citou como foco das conversas MDB, PSD e União Brasil, que não se posicionaram oficialmente no segundo turno da disputa presidencial.

Lula afirmou em discurso no domingo, na Avenida Paulista, que fará um governo amplo, indicando que abrirá espaço para forças políticas de centro, algumas delas que já aderiram à sua campanha no segundo turno da disputa presidencial. Com dez partidos na coligação, o presidente eleito contará com uma base aliadas de 122 deputados a partir da nova legislatura, número abaixo dos 187 eleitos pelas legendas que apoiaram Jair Bolsonaro — além do PL, PP e Republicanos. A intenção do PT é atrair para seu lado ao menos parte de parlamentares dessas siglas, que integram o Centrão, para garantir a governabilidade do novo governo.

— Vamos procurar a partir de hoje (ontem). Vou procurar o presidente Baleia (Rossi, do MDB), o presidente Gilberto Kassab (PSD) e presidente de outros partidos também — afirmou Gleisi.

— Sabemos que temos também diálogo e abertura para conversar com o União Brasil. E vamos conversar com todos os partidos que queiram conversar conosco.

Ela se reunirá hoje com os presidentes dos partidos da coligação que elegeu Lula, além dos líderes dessas siglas na Câmara. O objetivo é tratar das pautas que tramitam no Congresso.

— Tem várias pautas tramitando no Congresso Nacional que são importantes para o Brasil e que nós precisamos discutir —afirmou.

Encontro com Lira

Em outra frente, Lula enviou emissários para agendar um encontro com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Não há definição sobre data ou local da conversa — se em Brasília ou em São Paulo —, mas o petista faz questão que a reunião ocorra pessoalmente. Segundo pessoas envolvidas na negociação, o petista quer tratar com Lira sobre o andamento da transição e buscar apoio para encontrar saídas para incluir no Orçamento de 2023 o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 e reajuste do salário mínimo acima da inflação — duas das principais promessas de campanha do petista. De olho na reeleição à presidência da Casa, Lira indicou estar aberto a dialogar com o petista.

Além de petistas com quem Lira já tem interlocução, o deputado federal Neri Geller (PP-MT) é outro que irá trabalhar para aproximá-lo de Lula. Ontem, o parlamentar, que fez campanha pelo petista a despeito de seu partido fazer parte da coligação de Bolsonaro, esteve na residência oficial. Segundo apurou O GLOBO, Geller disse ter ido levar uma mensagem de agradecimento do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), pelo pronunciamento do presidente da Câmara reconhecendo a vitória de Lula meia hora após o resultado. No domingo, Lira também foi um dos primeiros a ligar para Lula após o fim da apuração.

Durante a tarde de ontem, o presidente da Câmara se reuniu com correligionários para conversar sobre o resultado das eleições e o futuro da sigla. Na residência oficial, ouviu reclamações sobre a atuação de aliados radicais de Bolsonaro na reta final da campanha. Foram lembrados os episódios de Carla Zambelli (PL-SP), que sacou uma arma para intimidar um apoiador de Lula em São Paulo, e o de Roberto Jefferson (PTB), que jogou granadas e atirou contra policiais federais.

Um dos participantes do encontro, o presidente do PP, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), disse a interlocutores que não há problema de o partido abrir diálogo com o PT sobre uma aproximação, mas seria preciso deixar claro que uma eventual aliança passaria necessariamente pelo apoio à reeleição de Lira na presidência da Casa.

Ao falar à GloboNews, contudo, Gleisi afirmou não ser intenção de Lula se posicionar sobre as disputas pelo comando do Legislativo, marcadas para fevereiro.

— O presidente Lula tem reiteradamente falado que não vai interferir no processo de eleição para a presidência da Câmara ou do Senado. Isso é um assunto interna corporis, cabe aos deputados, às bancadas, à correlação de forças do partido e à construção das candidaturas.

Pacheco à disposição

Também de olho em sua reeleição, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), telefonou ontem para Lula para se colocar à disposição do petista para discutir a votação de projetos importantes para o novo governo. Pacheco disse que o Senado estará aberto para “resolver” os problemas urgentes do país.

“Há pouco, liguei para o presidente Lula, eleito neste domingo. Dei a ele os meus parabéns pela vitória e disse também que encontrará no Senado toda a colaboração, com a devida interlocução democrática, para resolvermos os reais e urgentes problemas enfrentados pelos brasileiros”, escreveu Pacheco em suas redes sociais.

Interlocutor de Lula com Rodrigo Pacheco, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) foi escalado pelo petista para se reunir com o presidente do Congresso nesta terça-feira. Depois de conversar com o presidente eleito em São Paulo, Prates viajará a Brasília para pedir a Pacheco que não dê andamento a pautas de costumes caras a Bolsonaro.

“Disse (a Lula) que encontrará no Senado toda a colaboração para resolvermos os reais e urgentes problemas dos brasileiros” 

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado