Valor Econômico, n. 4953, 05/03/2020. Especial, p. A22

Expectativa é de nova desaceleração no 1º trimestre

Ana Conceição


Com a incerteza causada pelo impacto da epidemia de coronavírus sobre a economia global e o desempenho mais fraco da atividade na virada do ano, a expectativa é de nova desaceleração do crescimento no primeiro trimestre de 2020. As estimativas preliminares apontam para expansão de 0,1% a 0,4% sobre os três meses anteriores, feito o ajuste sazonal, um ritmo mais fraco que o 0,5% do quarto trimestre de 2019.

A MCM Consultores projeta um crescimento de apenas 0,1%. “O PIB do quarto trimestre de 2019 apresentou desempenho dentro do esperado. Mas a composição do crescimento mostra renovada fraqueza do investimento, que segue como o ‘calcanhar de Aquiles’ da retomada”, escreveram economistas da casa em relatório. No quarto trimestre a formação bruta de capital fixo (medida de investimento) caiu 3,3% sobre o terceiro trimestre, mais que o esperado. Em 2020, o clima de incerteza global complica ainda mais as decisões de investimento privado, além do lento andamento da agenda de reformas devido aos embates entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional.

Também por causa da composição ruim do PIB do quarto trimestre do ano passado, o Banco Safra colocou viés de baixa em sua estimativa para o PIB do primeiro trimestre deste ano. Atualmente, a instituição prevê crescimento de 0,3% no período.

A Tendências Consultoria Integrada deve revisar para baixo sua estimativa de crescimento de 0,4% no período de janeiro a março. Também tem viés negativo a estimativa para o PIB de 2020. de 2,1%. Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia da consultoria, antecipa que o número deverá ser revisado para algo entre 1,7% e 1,8%, com impacto da frustração da atividade no fim de 2019 e do coronavírus neste início de 2020.

O Santander projeta, por ora, uma desaceleração para o PIB do primeiro trimestre, para alta de apenas 0,2% em relação aos três meses anteriores com ajuste. De acordo com Lucas Nóbrega, essa frustração se deve ao estímulo aquém do esperado dos saques do FGTS no fim do ano. Conforme o economista, a frustração pode ser explicada possivelmente por uma antecipação da produção para o terceiro trimestre, antevendo aumento das vendas no período subsequente, além do fato de que apenas cerca de 75% dos recursos disponíveis foram sacados.