Título: Escrivão entrega quadrilha
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 12/10/2005, Rio, p. A14

Para obter redução da pena, Fábio Kair conta quem roubou os R$ 2 milhões da sede da PF

Inscrito no programa de delação premiada para obter a redução da pena, o escrivão da Polícia Federal Fábio Marôt Kair, 28 anos, acusou o agente Marcos Paulo da Silva Rocha de matar dois homens na Avenida Abelardo Bueno, em frente ao Rio Office Park, na Barra da Tijuca, em março deste ano. Em 12 horas de depoimento na Justiça Federal, Kair também confessou que os policiais Ivan Ricardo Leal Maués, Marcos Paulo da Silva Rocha e um terceiro homem - identificado como Ubirajara - roubaram os R$ 2 milhões em notas de euro, dólar e real da Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, há 24 dias. Os investigadores procuram um quarto integrante da quadrilha que estaria com o dinheiro roubado. O roubo dos 50 quilos de cocaína também está esclarecido. Os investigadores revelaram que André Campos, Clóvis Barruan, Fábio Kair, Ivan Ricardo Leal Maués e Marcos Paulo Rocha revendiam as drogas desviadas da sede da Polícia Federal para os traficantes do Rio.

Com medo de sofrer represálias por delatar a quadrilha, Kair pediu para ser levado para outra cidade sob a custódia de agentes do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise) da Polícia Federal. O superintendente José Milton Rodrigues autorizou a transferência para Brasília, domingo à noite, depois de ele ajudar a elucidar 4 inquéritos. Sob forte esquema de segurança, Kair deverá voltar ao Rio na sexta-feira para esclarecer outras informações. No mesmo dia, o Ministério Público deverá decretar a prisão preventiva das oito pessoas detidas.

Além do roubo do dinheiro e do duplo homicídio, ele confirmou a participação dos suspeitos no furto de três dos 23 cheques do Clube Privê Cinco Estrelas, no Recreio dos Bandeirantes, no valor total de R$ 17 mil. No local, onde eram promovidas rinhas de galo com apostas de até R$ 50 mil, foram flagrados o publicitário Duda Mendonça e o vereador Jorge Babu (PT). No processo entregue à 2ª Vara Federal Criminal, os agentes Marcel Hamada Grezes, Ivan Ricardo Leal Maués e Marcos Paulo da Silva Rocha são apontados como os responsáveis pelo saque, enquanto Adilson Álbi Vieira aparece como o principal suspeito de coagir os comerciantes que repassaram os cheques roubados.

O chefe das investigações sobre o roubo dos R$ 2 milhões, delegado Daniel Sampaio, vai solicitar proteção à esposa, aos dois filhos e à mãe do escrivão Fábio Marôt Kair, que moram na Barra da Tijuca. O advogado do Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal, Joel Corrêa de Lima, que representa Kair, disse que seu cliente aceitou a delação premiada sem sua aprovação.

- Foi uma opção do Fábio. Minha posição é contrária porque o bônus é menor do que ônus. Não estou aqui para adivinhar, mas ele está numa posição muito difícil - afirmou Lima, professor de direito penal da Fundação Getúlio Vargas.

De acordo com o advogado, a delação premiada é instrumento complexo que deve ser analisado com frieza. Lima disse desconhecer o paradeiro de seu cliente, tampouco soube dizer se continuará a representá-lo.

Ontem, a Polícia Federal incinerou cerca de 160 quilos de maconha apreendidos durante a chamada Operação Atalaia, em Macaé. Iniciada em julho, a operação desarticulou uma quadrilha que atuava no Morro do Turano, Jacarezinho, Região dos Lagos e Baixada Fluminense.