Título: Corrida contra o tempo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/10/2005, Internacional, p. A9
As vítimas do terremoto que atingiu o sul da Ásia têm agora um novo problema: o frio. Os sobreviventes da tragédia, sem casa, roupas e suprimentos, começaram a enfrentar ontem a mudança de temperatura, ocasionada por uma frente fria. A previsão é de chuva e neve para os próximos dias, sobretudo na Caxemira, a região mais afetada, localizada na cordilheira do Himalaya.
- Vamos ajudar a todos com abrigos, cobertores e agasalhos antes do inverno - afirmou o chefe do departamento de Interior interno, V. K. Duggal. A previsão para os termômetros na noite de ontem era de zero grau Celsius.
Mas, Khatija Bibi, uma dona-de-casa de 45 anos, não acredita que a assistência chegará:
- Acho que ninguém virá nos ajudar porque o tempo está horrível - afirmou, junto ao filho ferido envolvido por um cobertor, próxima aos escombros de sua casa. - É a ira de Deus - completou.
Até agora, há somente cinco mil tendas disponíveis das 35 mil estimadas como necessárias. No entanto, a promessa de ajuda ao país já alcança US$ 350 milhões, anunciou o primeiro-ministro paquistanês, Shaukat Aziz, que se reuniu ontem, em Islamabad, com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em visita à Ásia.
Em discurso no aniversário de seis anos do golpe que o levou ao poder, o presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, pediu paciência à população pelos atrasos na assistência e mais doações. A tragédia, a maior da história do país, matou pelo menos 23 mil pessoas, número que pode chegar a 42 mil, segundo especialistas, e deixou 2,5 milhões de desabrigados.
- Peço à nação e à comunidade internacional para contribuírem de forma generosa para o fundo de emergência - declarou o presidente.
Se, por um lado, a situação piora com a mudança de temperatura, de outro, milagres não param de acontecer. Ontem, uma mulher e uma criança foram resgatadas com vida dos escombros, depois de 105 horas soterradas.
Rashida Faruq, de 45 anos e mãe de três filhos, foi socorrida por uma equipe turca em Muzaffarabad, capital da Caxemira paquistanesa. O resgate foi aplaudido por cerca de cem pessoas que acompanharam o drama em frente às ruínas de sua casa.
O marido de Rashida, Mahmud Faruq Marchal, de 48 anos, comemorou:
- Minha mulher voltou para mim e agora vamos começar uma vida nova juntos - festejou. - Obrigado, Turquia, obrigado.
Uma criança de cinco anos também foi salva nos arredores da cidade, encontrada nos destroços de um prédio por socorristas.
- Está muito cansada, mas consciente. É um milagre! - declarou seu tio, Ahmed Jalil, levando a menina à ambulância.