Título: Re-Seios
Autor: Sergio Abramoff
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Opinião, p. A11

Assusta-me a facilidade com que adolescentes se aventuram em cirurgias plásticas. A cobrança por uma estética perfeita está acima do razoável. Saídas de absurdas receitas de anfetaminas e diuréticos, com o metabolismo e o sistema imunológico combalidos, enfrentam mal dimensionadas lipoaspirações, que as deixam muitas vezes em situações limítrofes de segurança.

Parece que muitos cirurgiões plásticos se sentem constrangidos em assumir a grandeza da agressão, e abrem mão de uma exposição mais ampla do risco cirúrgico, solicitando apenas um eletrocardiograma e poucos exames pré-operatórios. Afinal, trata-se de uma cirurgia eletiva, em que o paciente vai de livre e espontânea vontade em direção ao centro cirúrgico. Não pode ser assustado.

Da mesma magnitude é a problemática do curto pós-operatório, em que pacientes não raro anêmicas e com desequilíbrio hidro-eletrolítico recebem alta hospitalar precoce, em conseqüência desta pseudo-simplicidade do procedimento cirúrgico. Esta semana atendi na Clinica São Vicente um destes casos, no qual foi preciso um atendimento de emergência, quatro transfusões de sangue e todo um esforço para reverter uma reação inflamatória sistêmica grave e imprevista para a cirurgia proposta. Felizmente o cirurgião soube reconhecer a tempo a gravidade do quadro clínico, indicando uma re-internação, e compartilhando os esforços bem-sucedidos de recuperação.

Outro grande motivo de preocupação é a prótese de silicone implantada nos seios adolescentes. Penso que também são minimizadas informações sobre conseqüências a curto e longo prazo. Os implantes são compostos de um invólucro de borracha siliconizada, que é preenchido durante a cirurgia com uma solução salina estéril, ou mais recentemente por um invólucro de poliuretano envolvendo gel de silicone.

As possíveis complicações, alem do insucesso estético, ocorrem em 20% dos casos (Adolesc.Méd.Clin. Out 2004), e incluem 1% de infecções, 2% de hematomas, 7% de extravasamentos e 11% de contratura capsular. Esta ultima, definida como um endurecimento da cápsula fibrosa em torno do implante, pode ocasionar um significativo desconforto e a aparência pouco natural de uma bola de tênis grudada ao tórax.

Não há dificuldades posteriores ao implante com a amamentação, nem uma incidência maior de câncer de seio, embora a detecção precoce de tumores muita vezes fique prejudicada por maior dificuldade na interpretação da mamografia.

É fundamental ainda que as candidatas às cirurgias sejam submetidas a uma rigorosa avaliação clinica, que ratifique não só a situação de seu coração (o aval dos cardiologistas neste caso funciona apenas como um salvo-conduto para o cirurgião), mas que também esteja capacitada a detectar distúrbios dismórficos (sentimentos negativos excessivos sobre a aparência), desordens de personalidade (expectativas não realistas), e distúrbios alimentares (bulimia e anorexia) presentes em cerca de 10% das adolescentes.

Finalmente, as candidatas a implantes mamários devem ser alertadas que, em função da expectativa atual da sobrevida humana ser de 80 a 90 anos, várias outras cirurgias para reposicionamento ou troca de prótese serão necessárias, em média a cada 10 anos.

O site da food and drug administration (www.fda.gov/cdrh/breastimplants) contém informações adicionais para uma melhor conscientização dos possíveis riscos e benefícios da cirurgia.