Valor Econômico, n. 4954, 06/03/2020. Brasil, p. A5

Para ministro, Mansueto deve estar frustrado se esperava expansão de 3%

Anaïs Fernandes
André Guilherme Vieira


O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a afirmar que o resultado da economia brasileira em 2019 não surpreendeu e, questionado, rebateu o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Pela manhã, Mansueto disse não ser normal um país em desenvolvimento crescer a 1% ao ano.

“Se o Mansueto estava esperando que fosse crescer 3%, ele deve estar frustrado. Se ele estivesse pensando como eu estou pensando, que ia ser 2% [em 2020], eu não estou frustrado, para mim está acontecendo tudo como tinha que acontecer”, disse Guedes após participar de almoço na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Mais cedo, Mansueto destacou que o país ainda passa por enormes dificuldades. “Eu durmo tranquilo? Não durmo tranquilo. Eu estou muito preocupado”, disse.

Considerando o crescimento de 1,1% do PIB no ano passado, e, sobretudo, os efeitos do coronavírus na economia global e para o Brasil, analistas cortaram suas previsões de 2020 para uma faixa entre 2% e 1,5%, com apostas se aproximando desse piso.

“Desde o início, a nossa hipótese de trabalho era 1% no primeiro ano [do governo de Jair Bolsonaro] e 2% no segundo. Muita gente previa 2,5%, 3%. Esse pessoal é que está tendo que rever para baixo”, afirmou Guedes. No entanto, no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias da Secretaria de Orçamento Federal, de março de 2019, a projeção para o crescimento do ano passado foi fixada em 2,2%, uma queda em relação aos 2,5% da lei orçamentária anual, aprovada no governo de Michel Temer.

A projeção da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia para este ano está em 2,4%. Segundo Guedes, os primeiros estudos do governo apontam que a previsão mais pessimista para os reflexos do coronavírus no PIB brasileiro considera um impacto negativo de 0,5 ponto percentual. No melhor cenário, a perda seria de 0,1 ponto. “Por isso, ela [SPE] reviu de 2,5% para talvez 2%. ”

O ministro destacou que, na comparação trimestre contra mesmo trimestre do ano anterior, a atividade acelera desde o início de 2019 e terminou rodando a quase a 2%. “A grande verdade é que, quando o governo Bolsonaro chegou, o crescimento do PIB, que tinha sido 1,3% no governo Temer, já tinha caído para 0,7%, se você pegar o primeiro trimestre do governo [Bolsonaro, ante igual período do ano anterior]”, disse, citando como razão os choques provocados pela crise na Argentina e a tragédia em Brumadinho.

“Previsão [de PIB] para este ano é 2% mesmo”, reafirmou. “O ministro da Economia fala 2%, a SPE fala 2,5%. A SPE agora está revendo para 2%. Eu estou parado, até agora estou com 2%. O coronavírus chateia um pouco. ”

Guedes voltou a argumentar que o fato de a economia brasileira ser mais fechada prejudicou o país na hora dos “ventos favoráveis” de crescimento global, mas agora ajuda a amenizar os impactos do coronavírus.

Sobre embates entre Executivo e Legislativo a respeito do Orçamento, o ministro disse ser algo "natural”. Ele reforçou também que “a governabilidade está acontecendo”.

No fim da conversa com os jornalistas, Guedes foi questionado sobre eventuais cortes no Sistema S e afirmou: “O que a gente fala, num determinado momento a gente faz”.