Valor Econômico, n. 4954, 06/03/2020. Brasil, p. A5

Crescimento do PIB de 1% “não é normal”, afirma secretário

Edna Simão


O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou ontem que “não é normal” um país em desenvolvimento com o Brasil crescer 1% ao ano. “Estamos num país que ainda está passando por enormes dificuldades. Eu durmo tranquilo? Não durmo tranquilo. Eu estou muito preocupado”, contou em eventos com secretários estaduais. No ano passado, o Brasil registrou um crescimento econômico de 1,1% ante 2018.

As declarações do secretário foram feitas em um momento que o presidente Jair Bolsonaro estaria cobrando crescimento maior da atividade ao ministro Paulo Guedes (Economia). Guedes disse, porém, que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) veio em linha com o que esperava e que, se Mansueto esperava uma expansão do PIB de 3%, deve estar frustrado.

Para 2020, o secretário evitou fazer projeção para o PIB, o que segundo ele, seria “mero chute”. Isso porque, a Secretaria de Política Econômica ainda está rodando os modelos para calcular o impacto no Brasil da esperada desaceleração da economia global devido ao coronavírus. Para ele é preciso ter uma avaliação do efeito nas receitas para decidir também sobre a necessidade ou não de contingenciamento de recursos para o cumprimento da meta de déficit fiscal deste ano, de R$ 124,1 bilhões.

“Estou muito preocupado porque a gente está ainda em um país com crescimento muito baixo. Não é normal país em desenvolvimento como o Brasil crescendo 1% ao ano. Isso é normal? Isso não é normal”, complementou. “Um país com tanta necessidade, tanta carência e desigualdade tão grande crescer 1% ao ano claramente causa frustração em vários segmentos da sociedade. ”

Para Mansueto, a saída para um crescimento econômico maior e sustentável é aprovação de reformas estruturais, mas para isso depende de consenso e respeito ao contraditório. Na avaliação dele, o Congresso não está atrasando a votação das matérias pois tem seu timing para aprovar as reformas. Ele repetiu o discurso de que ninguém defende aumento de impostos no país, já que a carga tributária é maior do que a de outros emergentes e, mesmo assim, o investimento no Brasil - que é fundamental para sustentar o crescimento econômico - é baixo.

Mansueto destacou que a situação econômica do país melhorou nos últimos anos, mas ainda é de “extrema fragilidade”. Tanto é que até 2022 o governo não deve registrar superávit primário. Ele reforçou estar preocupado com o crescimento do mundo e o impacto nas economias de a China crescer, por exemplo, 3% ao ano.

O subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil, Martim Cavalcanti, destacou para os secretários que, apesar de estar sendo discutido uma descentralização dos recursos orçamentários, o Congresso tem adotado uma série de medidas que vão no sentido oposto. Por exemplo, ele ressaltou que no próximo ano o governo federal deve ter uma despesa adicional de R$ 16 bilhões devido às mudanças propostas no Fundeb, que tramitam no Congresso, e da aprovação, ainda em comissão do abono natalino para o Bolsa Família. “Importante saber qual o caminho que queremos trilhar muitas frentes estão sendo abertas. Conversa com os Estados para saber onde queremos caminhar”, explicou.