Valor Econômico, n. 4955, 07/03/2020. Brasil, p. A4

Área econômica vê ‘exagero’ em movimentos do mercado

Fabio Graner


Fontes da área econômica apontam exageros nos movimentos recentes do mercado e acreditam que com o tempo deve haver uma acomodação. Interlocutores do governo ouvidos pelo Valor atribuem maior parte do movimento ao “susto” do coronavírus nos mercados internacionais. Apesar de esperar um impacto relevante e negativo sobre o crescimento, o estresse nos ativos, em especial no câmbio, estaria sendo maior do que o surto em si da doença neste momento justificaria. Esse quadro no mercado teria sido agravado com os ruídos políticos internos.

Há uma leitura de que o dólar de fato mudou de patamar, mas que há excessos nos valores recentes praticados. Seria um momento de “pânico” típico. Segundo uma fonte, a expectativa é a de que isso reflua mais à frente, se o governo conseguir alinhar com o Congresso o andamento das reformas, tanto as que já estão no Legislativo, em especial a PEC Emergencial (que permite completar o ajuste fiscal e manter o teto de gastos), como as que ainda serão enviadas.

O governo tem batido na tecla de que o câmbio é flutuante e que não cabe à política econômica defender algum valor para a cotação da moeda. Também nos bastidores, fontes repetem que parte da subida da moeda americana desde o ano passado tem um caráter estrutural, por conta da queda dos juros, que espantou os capitais especulativos de curto prazo.

O problema, reconhecem, é que diante das incertezas externas e internas, o capital externo de longo prazo para investimentos no país ainda não veio para compensar esse fluxo negativo. E esse quadro torna os mercados mais voláteis. Dessa vez, a disparada do dólar chegou ao mercado de juros, elevando as taxas futuras mesmo com o sinal de corte da Selic dado pelo BC. A leitura é que isso reflete o movimento de estrangeiros, que se desfizeram de títulos locais mais longos e migraram para posições defensivas no exterior.

É nesse contexto que se insere a estratégia de se perseverar na agenda de reformas, que diferenciaria o Brasil de uma variedade de países. Mas da Selic dado pelo BC. A leitura é que isso reflete o movimento de estrangeiros, que se desfizeram de títulos locais mais longos e migraram para posições defensivas no exterior.

É nesse contexto que se insere a estratégia de se perseverar na agenda de reformas, que diferenciaria o Brasil de uma variedade de países. Mas a equipe econômica sabe que não ajuda o clima de guerra instalado entre o Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A leitura é que isso se deve à antecipação das discussões eleitorais para 2022, já que Maia é visto como aliado do governador de São Paulo, o tucano João Doria, que pretende disputar a presidência com Jair Bolsonaro. E esse ambiente deflagrado desestimula os investimentos no Brasil.