Título: Varig: uma longa assembléia à vista
Autor: Simone Cavalcanti e Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 12/10/2005, Economia & Negócios, p. A20
Escolha de plano pode levar até dez dias
Uma assembléia de credores que começa amanhã e não tem data para acabar. Esta foi a hipótese levantada pelos juízes que acompanham a recuperação judicial da Varig ontem, dia em que o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), representante das associações de funcionários da empresa, apresentou o seu plano de reestruturação da companhia. Os rumores de que sindicatos e associações ¿ que disputam a representação dos trabalhadores no Comitê de Credores a ser formado amanhã ¿ não aprovarão o plano oficial apresentado pelo Conselho de Administração da Varig levam os juízes a cogitar um desfecho mais lento, de até dez dias, para a assembléia.
De acordo com o juiz Luiz Roberto Ayoub, em caso de o plano oficial do Conselho de Administração da empresa não ser aprovado, TGV, Docas Investimentos e qualquer outro interessado na companhia terão a chance de realizar uma exposição aos credores.
¿ O administrador judicial decidirá quanto tempo os credores terão para analisar os planos e dará também um tempo para a devedora (Varig) deliberar sobre as modificações indicadas pelos credores ¿ disse Ayoub, lembrando do curto espaço de tempo de que dispõe a empresa para conseguir dinheiro e manter as operações.
A juíza Márcia Cunha frisou que qualquer outro plano poderá ser apresentado amanhã. Há rumores de que os sindicatos e o Aerus ¿ fundo de pensão das aéreas e maior credor privado da Varig ¿ apresentarão seus planos.
O economista Paulo Rabello de Castro expôs o plano do TGV ao presidente do TJ-RJ, Sérgio Cavalieri Filho, ao senador Jefferson Peres (PDT-AM) e aos juízes.
Segundo Rabello de Castro, o projeto do TGV tem ¿cerca de oito ou nove modificações¿ em relação ao plano do Conselho de Administração da Varig, presidido por David Zylbersztajn. As principais diferenças no setor operacional são a permanência da ¿cabeça¿ das operações no Rio de Janeiro, a manutenção dos empregos ¿ o conselho previa corte de 13% da mão-de-obra ¿ e o veto à venda da VarigLog. O economista afirmou que as principais mudanças estão no quesito financeiro.
De acordo com o economista Bruno Rocha, que também auxiliou o TGV, no primeiro ano entrariam US$ 200 milhões em troca de recebíveis. Segundo ele, já existe um fundo de investimento europeu interessado no negócio.
Posteriormente, segundo Rocha, um investidor americano ¿ não identificado ¿ aportaria US$ 300 milhões para ter direito a 20% da empresa.
¿ A operação de recebíveis é uma ponte para trazer um investidor definitivo ¿ disse Rabello de Castro.
Além disso, os próprios trabalhadores ¿apostariam¿ na empresa ao investir US$ 100 milhões na companhia.
Rabello de Castro garantiu que a Varig tem condições de atingir o investment grade em quatro anos caso o governo aprove o encontro de contas entre o que a companhia deve e os créditos que tem a receber da União.