Título: Ladrão devolve dinheiro à PF
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Rio, p. A13

Agentes federais recuperam R$ 680 mil em notas de euro, deixados na Praça Afonso Pena, na Tijuca. Roubo aconteceu há 27 dias

Agentes federais recuperaram ontem R$ 680 mil em notas de euro que foram roubados da Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, e provocaram a maior crise da história do departamento no Rio. O montante equivale a 33% do total furtado - R$ 2 milhões em notas de euro, dólar e real - da sala-cofre da instituição, há 27 dias. O delegado Alessandro Moretti, da Divisão de Inteligência Policial, revelou que o dinheiro foi devolvido por um ladrão que sabia que seria preso nos próximos dias. - Esta madrugada foi crucial e os últimos cinco dias foram importantíssimos para o sucesso das investigações. Ouvimos duas pessoas de madrugada que colaboraram com as investigações. Estávamos perto de resgatar essa parte devolvida - observou Moretti, que interrogou uma mulher e um policial civil cujas identidades foram mantidas em segredo.

Uma das linhas de investigação mostra que o agente Marcos Paulo da Silva Rocha, preso há dez dias, entrou em contato com o seu cúmplice para evitar que os investigadores detivessem a sua mulher, apontada como a principal receptora do dinheiro roubado. Moretti confirmou que a parte recuperada era destinada a Rocha. Segundo ele, a idéia foi aliviar a pressão sobre a mulher do agente detido.

- Ele e o Ubirajara Saldanha Maia praticaram o roubo. Entraram e saíram de carro, provavelmente no Tempra que apreendemos - observou.

O ladrão ligou duas vezes para o setor de Inteligência, na Praça Mauá, para acertar os detalhes da entrega do dinheiro. O primeiro contato foi feito às 10h, durou um minuto e 15 segundos e mobilizou a equipe de investigação na tentativa de rastrear o telefonema. O mesmo aconteceu antes das 14h, quando o homem voltou a entrar em contato. Para decepção dos policiais, o tempo das ligações impediu o rastreamento. Ao seguirem as dicas do interlocutor, os agentes encontraram as notas dentro do saco plástico de supermercado, às 14h30, atrás de uma árvore, próximo a uma lixeira da Praça Afonso Pena, na Tijuca, na Zona Norte. Mais de 20 agentes participaram da operação de resgate das notas roubadas. Um deles filmou a movimentação na praça.

Rocha será indiciado hoje por duplo homicídio qualificado. Ele foi acusado pelo escrivão Fábio Marôt Kair em depoimento à Justiça Federal, na sexta-feira. Rocha e mais três agentes - Kair, Ivan Ricardo Leal Maués e Adilson Álbi Vieira - tiveram a prisão preventiva decretada por causa do inquérito que apura o furto de três cheques do Clube Privê Cinco Estrelas no valor de R$ 17 mil. O crime aconteceu em outubro do ano passado e levou à prisão o publicitário Duda Mendonça e do vereador Jorge Babu, liberados ao pagarem fiança no valor de R$ 1 mil.

Ao contrário do que aconteceu no dia seguinte à Operação Caravelas, que apreendeu 1.600 quilos de cocaína (já incineradas) e R$ 2 milhões em notas de euro, dólar e real, o superintendente José Milton Rodrigues exibiu as cédulas e suas respectivas fotocópias. Em 16 de setembro, o superintendente em exercício, Roberto Prel, apresentou as apreensões sem se certificar de que as cópias foram feitas.

- O apoio de policiais federais de fora do Rio tem sido fundamental para esclarecermos tudo - comentou José Milton Rodrigues.