Título: Esquerda acha que ganha espaço
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 12/10/2005, Brasília, p. D1

Embora derrotadas, correntes esquerdistas comemoram percentual inédito de votos e avisam: lutarão para dar candidato ao Buriti

Apesar de não divulgado oficialmente o resultado do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT é praticamente certo: Ricardo Berzoini, do campo majoritário, será o presidente do comando nacional do partido. Com mais de 90% dos votos apurados, ele está cinco mil votos à frente do candidato da esquerda, Raul Pont. O resultado favorece, no Distrito Federal, o presidente eleito do diretório regional, deputado distrital Chico Vigilante. No entanto, a derrota de Pont a nível nacional e da chapa de esquerda a nível local não tirou o otimismo da deputada Arlete Sampaio, da esquerda petista. Ela vê o resultado como positivo.

- Pela primeira vez a esquerda do partido quase ganha as eleições. Eles [campo majoritário]perderam a hegemonia de 60% e, por isso, acredito que a esquerda será mais ouvida - avalia a deputada.

Apoiador de Berzoini, o deputado Chico Vigilante não acredita que o resultado da eleição nacional influencie na escolha dos candidatos ao governo do DF pelo PT. Entre os pré-candidatos apenas Sigmaringa Seixas apoiou o campo majoritário. Geraldo Magela, que no primeiro turno participou do Movimento PT em campanha de Maria do Rosário, não tomou posição no segundo turno das eleições partidárias. Os outros dois candidatos, deputados Arlete e Chico Leite, são da ala esquerdista do partido.

- A eleição de Berzoini não influencia aqui. Se tem algo que vai pesar é a opinião do Lula. Ricardo [Berzoini]não vai se meter muito nas questões de Brasília - afirma.

Governistas - Arlete não acredita que a base de apoio ao governador Joaquim Roriz lance um candidato único ao governo do Distrito Federal. Ela acredita que a esquerda possa usar essa estratégia e aponta o ministro dos Esportes Agnelo Queiroz (PC do B) e a deputada federal Maninha (PSOL) como nomes fortes da esquerda.

- Precisamos admitir que ganhar eleição quando o Roriz não é candidato é mais fácil. É o mesmo cenário de quando ganhamos dele na eleição do Cristovam [1994]- afirma a deputada.

Tanto nos partidos de oposção quanto nos de situação, a aliança só seria possível caso a verticalização fosse derrubada pelo Congresso. Para isso, o parlamento deveria aprovar a emenda constitucional que exclui a medida.

- Os partidos vão sair com candidatos fortes para a Presidência e, por isso, precisam garantir o palanque nos governos locais também - diz Vigilante.

Além da verticalização, a cláusula de barreiras é outra dificuldade apontada por Vigilante para as eleições do ano que vem. Pela regra, os partidos só podem manter o registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e receber o dinheiro do Fundo Partidário caso obtenham, no mínimo, 5% dos votos nacionais e ter sido votado em pelo menos nove estados.

Apesar de considerar o fim da verticalização uma hipótese remota, Vigilante não descarta a possibilidade de união da esquerda, nem que seja por aliança branca.

- Pretendo intensificar a discussão para que possamos sair com uma candidatura única e lançar o nome até o fim do ano - conta o deputado, que deve tomar posse ainda este mês.

A decisão de antecipação da posse, que deveria acontecer em novembro, será tomada na quinta-feira à noite em reunião com os presidentes das zonais do PT no DF. Segundo Vigilante, a posse deve ser marcada para o dia 26 de outubro, quatro dias depois da posse de Berzoini no PT nacional.