Título: Uma nova Guerra do Paraguai
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Brasília, p. D1

Vendedores da Feira dos Importados reagem à intervenção de fiscais, mercadorias são apreendidas e ambulantes incendiara

Terminou em fogo, disparos e muita confusão a operação da Secretaria de Fiscalização (Sefau), ontem, na Feira dos Importados. Durante todo o dia, cerca de 50 fiscais retiraram bancas, toldos e barracas que, segundo eles, estavam em área irregular. Dez caminhões foram carregados com produtos apreendidos no local. - Estamos fazendo uma operação para desbloquear as passagens da feira, interrompidas por bancas e camelôs. São feirantes que não têm alvará e vendem seus produtos à revelia da fiscalização - afirmou o subsecretário José da Luz Araújo.

A operação começou pela manhã, fechando bancas sem alvará de funcionamento e ocupando áreas de passagem. O tumulto começou quando os fiscais chegaram à banca Rádio Feira, que fica no centro do local. Todos os produtos natalinos que abasteciam a banca foram apreendidos, sob a alegação de que a banca estava ocupando pública da feira. Uma multidão de feirantes se formou para assistir a apreensão, muitos deles apoiando a operação. Segundo o dono da banca, Abduel Nasser, os fiscais agiram com violência.

- Os fiscais chegaram pegando tudo e batendo em quem ficasse em seu caminho. Não houve diálogo - afirmou.

Nasser apresentou uma série de documentos que, segundo ele, lhe garantiam a ocupação do local.

- Eu pago uma taxa mensal de R$ 975 à Ceasa para ocupar tanto a área da loja quanto a de fora. A gente achava que estava protegidos pela lei e os próprios fiscais da legalidade agem com essa truculência? - questiona.

No início da tarde, a fiscalização apreendeu mercadorias e derrubou bancas de frutas, alimentos e bebidas que ficam do lado de fora da Feira dos Importados. Revoltados, os ambulantes colocaram fogo em armações de bancas e pedaços de madeira. Quatro viaturas do corpo de bombeiro foram chamadas para apagar o fogo.

- Foi a Acif [Associação dos Comerciantes da Feira dos Importados]que mandou a fiscalização nos tirar daqui. Nós assinamos um acordo com eles e com o Ceasa dizendo que iríamos cadastrar os vendedores de fruta para que pudéssemos ser legalizados, o que estamos fazendo. Nós queremos pagar taxas e impostos, fazer tudo dentro da lei, mas eles preferem agir com violência - afirmou o presidente da Associação dos Vendedores de Frutas e Cereais, Valmir Pedrada.

Segundo o diretor da Acif, Celso Medeiros, a associação chamou mesmo a fiscalização porque os ambulantes estavam vendendo produtos que concorriam com os vendidos na feira.

- Eles estão vendendo refrigerantes, quentinhas e outros produtos que são comercializados legalmente, pagando taxas. A concorrência é desleal - aponta.

Tiros - Depois de os ambulantes atearem fogo às barracas, a fiscalização pediu reforço. Mais de 30 homens da Divisão de Operações Especiais e até um helicóptero da Polícia Civil foram chamados.

Os fiscais da Sefau partiram então para o outro lado da feira, onde bancas colocaram toldos e mercadorias nas calçadas. Na primeira banca fiscalizada, que vendia tapetes, os comerciantes tentavam guardar as mercadorias antes de serem apreendidas. O dono da loja se interpôs à fiscalização e foi agredido e agrediu fiscais da Sefau. Políciais foram chamados e dispararam três tiros de balas de borracha. Um homem foi atingido de raspão.

- Atirar numa área tão pequena dessas coloca em risco crianças e clientes. É um absurdo a maneira da fiscalização agir. Eu pago mais de R$ 1 mil por mês para poder trabalhar e agora estou sendo tratado como bandido - reclamou Ivan Alves, proprietário da banca, .