Correio Braziliense, n. 21731, 15/09/2022. Política, p. 6

Simulação à moda militar

Luana Patriolino


O Tribunal Superior Eleitoral realiza, hoje, a simulação do projeto-piloto com biometria no teste de integridade das urnas eletrônicas que serão utilizadas nas próxima eleições. A proposta foi feita pela comissão do Ministério da Defesa que vem trabalhando em conjunto com os técnicos da Corte e foi aceita na sessão do TSE da última terça-feira. A avaliação está marcada para começar às 11h30.

No total, 640 urnas que participarão do próximo pleito serão escolhidas aleatoriamente e retiradas das seções eleitorais para serem submetidas à avaliação. O teste é realizado no dia da eleição, com acompanhamento de uma auditoria externa.

“O teste de integridade continua igual e, dessas urnas, algumas serão retiradas para a realização do teste de integridade com biometria. Isso será feito para nós testarmos e verificar realmente se isso (a biometria) é ou não necessário estatisticamente”, explicou o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, na sessão que acatou a sugestão das Forças Armadas. Para as eleições, o Brasil terá mais de 577 mil urnas em funcionamento.

De acordo com a avaliação de integridade dos equipamentos, as cédulas impressas e pré-preenchidas são digitadas por servidores da Justiça Eleitoral nas máquinas selecionadas para a testagem. Funciona como uma espécie de checagem do registro dos equipamentos eletrônicos.

Voluntariado

O procedimento ocorrerá com a participação de eleitores voluntários que, depois de votarem, serão convidados a participar da iniciativa em local adjacente ao da votação.  Segundo o TSE, será solicitado ao eleitor somente a impressão digital pela qual é realizada a leitura biométrica. O tribunal também ressaltou que os convidados não votarão uma segunda vez e que trata-se apenas um teste.

De acordo com a sugestão dos militares, as simulações devem realizadas nas seções eleitorais. Os eleitores usarão a digital para destravar as urnas de votação que serão testadas. Essa amostragem garantirá os equipamentos a serem disponibilizados no primeiro e no segundo turno da eleição.

Desde 2002, o TSE simula uma votação normal. Mas o teste com a biometria serve, segundo os militares, para verificar se o voto digitado no equipamento é o mesmo registrado pela urna eletrônica. Em 2018, circularam vídeos nas redes sociais bolsonaristas de que eleitores teclavam os números de um candidato, mas na tela surgia outro. Porém, jamais provaram a veracidade desses relatos.

A sugestão das Forças Armadas foi feita no âmbito da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE). O colegiado foi instituído em setembro de 2021, durante a gestão do ministro Luís Roberto Barroso à frente do TSE. Na época, a justificativa era a de ampliar a transparência e a segurança de todas as etapas de preparação e realização das eleições — que vinha sendo atacada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores.

Porém, já dentro da comissão, os militares foram motivo de problemas. Em agosto, já sob a presidência do ministro Edson Fachin, o coronel do Exército Ricardo Sant’Anna foi retirado do colegiado. Isso porque o militar fez várias publicações nas redes sociais que mantinha atacando as urnas eletrônicas e compartilhando os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral.