Valor Econômico, n.
4955, 10/03/2020. Política, p. A7
Atraso do Planalto
dificulta reformas
Lu Aiko Otta
Principal resposta do governo ao agravamento da crise internacional e ao baixo
crescimento, as reformas econômicas enfrentam dificuldades em sua aprovação,
inclusive por causa do Executivo. De uma lista de 12
propostas prioritárias elaborada pelo Ministério da Economia, três ainda não
chegaram ao Congresso Nacional: as reformas administrativa e tributária e o
novo marco legal para a navegação de cabotagem.
O ministro da Economia,
Paulo Guedes, disse ontem que pretende enviar nesta semana ou na próxima as
contribuições do Executivo para a reforma tributária. A primeira “fatia”, que
funde as contribuições PIS e Cofins, está pronta do ponto de vista técnico. O
encaminhamento ao Congresso depende apenas de acertos com os integrantes da
Comissão Mista criada para consolidar as diversas propostas de reforma que
tramitam no Legislativo.
Outra proposta que os
técnicos consideram concluída é a da reforma administrativa. Já há algumas
semanas, seu envio ao Congresso Nacional depende de uma avaliação sobre o
melhor momento político. No Planalto, a proposta ficou em banho-maria depois
que Guedes comparou os servidores públicos a parasitas.
A lista de prioridades
legislativas do Ministério da Economia divide as propostas em dois tipos:
transformação do Estado e promoção do investimento. Nesse segundo grupo, está a
formulação de um novo marco legal para o transporte de cabotagem. Essa proposta
tampouco foi enviada ao Congresso Nacional. Alvo de embates entre a equipe
de Guedes e o Ministério da Infraestrutura, o texto ainda está em
formulação.
Em melhor situação estão
duas propostas de emenda à Constituição (PECs) do plano Mais Brasil: a dos
Fundos e a Emergencial. As duas, mais a PEC do Pacto Federativo, iniciaram sua
tramitação pelo Senado.
A PEC dos fundos, que
prevê a extinção daqueles que não tiverem sua existência confirmada pelo
Congresso no prazo de dois anos, já foi aprovada na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ). Aguarda inclusão na pauta do plenário, onde precisará ser
aprovada em dois turnos antes de seguir para a Câmara dos Deputados.
A PEC Emergencial, que
cria novos mecanismos para cortar gastos, inclusive a redução de 25% da
jornada e dos salários dos funcionários públicos, começará a ser discutida esta
semana na CCJ. A intenção da presidente da comissão, Simone Tebet (MDB-MS) é
votá-la até o final do mês.
O Senado pode avançar
esta semana em outro item do grupo “transformação do Estado”: a autonomia
do Banco Central. Há duas propostas tratando do tema, uma na Câmara e outra no
Senado.
Há um acordo pelo qual o
texto do senador Plínio Valério (MDB-AM) será votado primeiro. Depois, seguirá
para a Câmara, onde será apensado à proposta que tramita lá. A principal
diferença entre os dois textos é que o de Valério estabelece que, além da
estabilidade dos preços, o BC deve buscar amenizar a flutuação da atividade
econômica.
A agenda de Guedes
contempla outros itens, como a autorização para privatizar a Eletrobras. A
incerteza quanto à aprovação dessa proposta levou a área técnica a considerar a
retirada dos R$ 16,2 bilhões que a União pretendia arrecadar este ano com a
operação. Com isso, aumentou o risco de haver contingenciamento nas despesas
deste ano. A programação financeira deve ser anunciada na próxima semana.
Num dia de pânico no
mercado financeiro, Guedes reiterou com sua equipe a aposta nas reformas
econômicas. A orientação é seguir negociando, como vem sendo feito desde o
início do governo de Jair Bolsonaro.
A agenda econômica do
governo tem no horizonte o calendário eleitoral. O próprio Guedes afirmou, numa
reunião com movimentos de rua, que tem 15 semanas para mudar o país. Depois do
recesso do meio do ano, as chances de aprovação de reformas complexas e
polêmicas como as da agenda do governo são menores. (Colaborou Estevão Taiar)