Título: Livros contam história da ABL
Autor: Sergio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 13/10/2005, Caderno B, p. B1

O primeiro livro a fazer parte do acervo da antiga biblioteca da Academia Brasileira de Letras foi o romance Flor de sangue (1896), do cronista carioca Valentim Magalhães (1859-1903). O exemplar foi doado para a Academia em 1987 e pode ser visto pelo público num balcão especial, protegido por vidro blindado, na sala de edições raras. Sua consulta não é permitida. A biblioteca, que foi instalada em 13 de novembro de 1905, por proposta do acadêmico Rodrigo Otávio Filho, recebendo o nome de Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça, completa seu centenário no mês que vem.

A história da Academia Brasileira de Letras pode ser contada por intermédio desses livros raros. Desde sua fundação, em 20 de julho de 1897, a ABL vem recebendo doações de coleções particulares de acadêmicos e de pessoas do mundo literário e cultural.

São obras raras e clássicas, muitas de primeiras edições, publicadas do século 16 ao 20. Entre elas, a edição princips de Os Lusíadas, de 1572, e um exemplar raríssimo das Rhythmas, impresso em Lisboa em 1595, ambos do mais importante poeta português, Luís de Camões.

A inauguração da Biblioteca Rodolfo Garcia, a princípio, foi uma necessidade por causa do acervo acumulado pela ABL nos seus 108 anos de existência. Na gestão do presidente Arnaldo Niskier, em 1999, os acadêmicos decidiram criar a nova biblioteca, por sugestão do escritor Josué Montello, com o objetivo também de recuperar os livros e documentos do acervo. Assim, os modernos equipamentos instalados na nova biblioteca também foram colocados na mais antiga. Mas, enquanto a Biblioteca Rodolfo Garcia é aberta ao público para consulta, estudo e pesquisa, a Lúcio de Mendonça permite apenas a visitação.

A exposição Coleção Brasiliana, na Biblioteca Rodolfo Garcia, possui os mais raros livros e gravuras assinados por alguns dos viajantes que estiveram no Brasil a partir do século 16. Brasiliana significa qualquer coleção de textos (livros, estudos, ensaios, documentos ou artigos), gravuras, fotos e filmes com temas que reproduzem a vida ou a cultura brasileiras. Três desses primeiros brasilianistas foram os franceses Jean de Léry, André Thavet e Claude d'Abbeville.

Presidente da casa, Ivan Junqueira reiterou, na inauguração da nova biblioteca, a importância desses artistas, escritores, viajantes e cientistas europeus para a compreensão do país.

- Durante o século 19 se intensificaram as atividades dos viajantes europeus. Foi a época das narrativas ou relatos etnográficos de Henry Koster, das contribuições botânicas de August François César de Saint-Hilaire, das litografias de Jean Baptiste Debret, entre outros. Foram muitos. Tantos que Rubens Borba de Moraes, em seu Manual bibliográfico de estudos brasileiros, enumera a contribuição de pelo menos 266 viajantes. Este é um dos tesouros da nova biblioteca.