Título: Aperto de mãos depois da saia justa
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, País, p. A5

Lula diz concordar com a ONU em relação à corrupção

SALAMANCA - Um dia depois de o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmar na abertura da 15ª Cúpula Ibero-Americana e diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que combater a pobreza em meio à corrupção é impossível, os dois reuniram-se ontem e posaram para fotos, para garantir que não há ressentimentos. O assessor da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, negou que o presidente Lula tenha se sentido constrangido e enfatizou que Annan citou números do crescimento na geração de emprego e renda no Brasil. Lembrou também que o presidente sempre compartilhou da mesma opinião do secretário.

Como forma de reforçar que não houve constrangimento, Lula aproveitou o encontro para felicitar Annan pela classificação da seleção de futebol de Gana, país natal do secretário, para a Copa do Mundo de 2006. Apesar da descontração aparente, não escapou dos comentários sobre a crise, nem sobre a eleição:

- Tenho restrições à tese da reeleição - afirmou, defendendo que os mandatos tenham cinco anos sem reeleição.

Enquanto isso, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), em nota, revelou a criação de um grupo técnico de biodefesa para articular ações e medidas preventivas com relação a doenças infecto-contagiosas que coloquem em risco a segurança da população brasileira.

Lula afirmou estar mais preocupado com a chegada da gripe aviária ao Brasil do que com a febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Em entrevista, num intervalo do evento, justificou sua posição, afirmando que a aftosa é um caso isolado, porque ''afeta apenas algumas centenas de cabeças de gado, num rebanho que tem 200 milhões de cabeças'':

- O que me preocupa agora é a gripe aviária, porque essa parecia que não ia chegar e há sinais de que está na Colômbia.

Ainda na 15ª Cúpula Ibero-americana, o ministro uruguaio das Relações Exteriores, Reinaldo Gargano, confirmou que os outros membros do Mercosul, Brasil, Argentina e Paraguai, aceitaram o ingresso da Venezuela no bloco.

Até o momento, país associado ao Mercosul, se tornará a partir de dezembro, segundo fontes diplomáticas presentes no encontro, membro pleno do bloco sul-americano. A notícia foi bem recebida pelo presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell. Mas ele reconheceu que essa possibilidade pode complicar as negociações entre União Européia e o Mercosul em prol de um acordo de livre comércio.