Valor Econômico, n. 4957, 11/03/2020. Brasil, p. A5

Choque de oferta é positivo, mas com efeito fiscal negativo

Ribamar Oliveira


Passado o momento de pânico dos mercados, a avaliação hoje de muitos técnicos do governo é de que a queda dos preços do petróleo representou, na verdade, um choque de oferta positivo, em meio aos temores sobre os efeitos do coronavírus na economia. De acordo com essa avaliação, que não é unânime, ocorreu uma forte redução nos preços de um dos principais insumos da economia - o petróleo -, o que é positivo.

Para a economia como um todo, o choque será favorável pois significará redução de custos das empresas “na veia”, como disse um técnico ao Valor. O prejuízo será para as companhias de petróleo, para as empresas que acumulam ações das petroleiras, para os países que dependem da receita desse produto e para os Estados brasileiros, que terão queda da arrecadação com royalties do petróleo e com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Haverá, portanto, um impacto fiscal negativo. Que poderá ser ainda maior se os efeitos da epidemia do coronavírus se intensificarem. Se isso ocorrer, haverá uma desaceleração ainda maior da economia, com redução da receita com impostos e contribuições. Esse é, portanto, o cenário mais preocupante. Embora ele não esteja descartado, acredita-se na área técnica que ele exigirá uma resposta conjunta dos governos dos países desenvolvidos.

O temor inicial do mercado, na avaliação de alguns técnicos, foi de que a queda do preço do petróleo pudesse se diversificar, com os preços de outros produtos e insumos também caindo. Esse movimento poderia provocar uma forte redução de demanda das companhias, o que intensificaria a desaceleração global. Isto, no entanto, terminou não se verificando, pelo menos até o momento.

Outra explicação para o pânico dos mercados foi o efeito riqueza da queda do preço do petróleo. Não apenas as companhias petrolíferas vão reduzir suas compras, por causa da diminuição de suas receitas, como também outras empresas que possuem ações das petroleiras terão uma queda dos seus ativos, com consequência negativa para os seus investimentos e suas compras. Nesse caso, o efeito do choque do petróleo é negativo.