O Globo, n. 32607, 15/11/2022. Saúde, p. 21

Contra ômicron

Paula Ferreira
Daniel Gullino


A segunda geração de vacinas de Covid-19 produzidas pela farmacêutica Pfizer, atualizadas para proteger contra subvariantes do coronavírus, estão em fase final de análise na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda sem previsão de quando começarão a ser aplicadas no Brasil. Caso os pedidos de autorização de uso emergencial sejam aprovados pela agência, o imunizante poderia ser incluído automaticamente no contrato que o Ministério da Saúde tem com a farmacêutica. Levantamento do GLOBO mostrou nesta segunda-feira que pelo menos 12 estados e o Distrito Federal já apresentam aumento de casos de Covid-19.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou à reportagem que, com a aprovação da Anvisa, a nova vacina poderá ser ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS). Queiroga afirmou, no entanto, que mais importante do que incorporar um novo tipo de imunizante é ampliar a cobertura das doses de reforço na população apta a receber a vacina. Apesar da preocupação do chefe da pasta, o Ministério da Saúde não avalia desenvolver nova estratégia para tentar captar este público que ainda não tem a imunização completa.

— Se houver o registro e a indicação técnica não haveria problemas para se ofertar a vacina bivalente. Seria mais importante avançar na aplicação da 2ª dose de reforço no público onde já existe a recomendação. (O aumento no número de casos) tem que ser monitorado. Mas as recomendações são as mesmas — afirmou o ministro ao GLOBO.

Segundo Queiroga, cerca de 69 milhões de pessoas ainda não tomaram a primeira dose de reforço da vacina contra Covid-19 e outras 32,8 milhões não tomaram o segundo reforço. É importante completar o esquema recomendado para garantir maior proteção contra a doença.

Em 2021, o governo brasileiro fechou acordo para compra de 100 milhões de doses da Pfizer para 2022. Em reportagem publicada na última semana, o GLOBO mostrou que ainda há cerca de 30 milhões de doses a serem recebidas. Caso o governo solicite, o contrato permite o acréscimo de mais 50 milhões de unidades. O negócio inclui fornecimento de qualquer vacina para Covid-19, incluindo doses pediátricas ou imunizantes atualizados.

No sábado, o Ministério da Saúde emitiu alerta a respeito do aumento no número de casos de Covid-19 e circulação de novas linhagens da variante ômicron: a BQ.1* e BA.5.3.1. Em relação à variante BQ.1* a pasta explica que há mutações na chamada proteína spike, que facilita a entra do vírus nas células humanas. Segundo o alerta, os estudos sobre a BQ.1* sugerem um risco maior de reinfecção. A pasta destaca, no entanto, que " não há dados epidemiológicos que sugiram um aumento na gravidade da doença."

De acordo com o ministério, na semana de 6 a 11 de novembro houve aumento de 120% na média móvel de casos em relação à semana anterior. No índice relacionado a óbitos o aumento foi de 28%. Na nota técnica, o ministério pediu que as secretarias orientem a população a reforçar o uso de máscaras e higienização das mãos com água ou álcool em gel.

Em agosto, a Pfizer solicitou o registro temporário de uma vacina bivalente, que valeria para a subvariante BA.1 e para a cepa original. No fim de setembro foi apresentado outro pedido, dessa vez para um imunizante que contempla as subvariantes BA.4 e BA.5. A Anvisa informou, em nota, que a análise das duas versões está em "fase final", após a apresentação de pareceres de especialistas.

"Os processos estão em fase final de análise pela área técnica, para posterior envio à Diretoria da Agência para deliberação, considerando que se trata de autorização de uso emergencial. Não há ainda data fixada de decisão", disse a agência.

A Pfizer, por sua vez, informou que tem trabalhado "junto à equipe técnica da agência para dirimir dúvidas sobre esta nova vacina, o que foi realizado por meio de respostas encaminhadas ao longo do mês de setembro". De acordo com a empresa, a Anvisa promoveu no dia 17 de outubro uma reunião com a participação de especialista para tratar da vacina bivalente.

A empresa também destacou que o contrato vigente com o governo "conta com a possibilidade de entrega de versões atualizadas do imunizante", mas disse que detalhes da negociação estão sob sigilo.