Valor Econômico, n. 4957, 11/03/2020. Agronegócios, p. B12

Operação da PF investiga sonegação com produtos agrícolas

Marcos de Moura e Souza 


Um esquema milionário de sonegação e lavagem de dinheiro envolvendo a compra e venda de grãos foi alvo de uma grande operação realizada ontem por Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal e Receita mineira. Autoridades cumpriram mandados de busca e apreensão, além de quebras de sigilo bancário e telemático em oito Estados e no Distrito Federal. A maior parte dos mandados foi cumprida em Minas Gerais.

Os principais alvos da operação “Quem viver verá” são corretores de milho, soja e feijão, profissionais que fazem a intermediação entre as duas pontas do negócio: o produtor rural e as empresas que adquirem grãos. Investigações indicaram que os corretores que foram alvo das buscas forneciam notas frias para os fazendeiros, que vendiam sua produção sem emissão de notas fiscais - e que, portanto, sonegavam impostos.

Além disso, os corretores suspeitos ajudavam também a blindar as indústrias adquirentes de grãos - que, segundo as autoridades, “alegam boa fé” ao dizer que as negociações foram feitas por intermédio de corretores. Dessa cadeia fazem parte ainda as empresas apelidadas de “noteiras”, que emitem notas fiscais para empresas de fachada.

Em nota divulgada pela Secretaria da Fazenda de Minas, o promotor Genney Randro Barros de Moura disse que os corretores se achavam até então “invisíveis” aos olhos da Receita, dos promotores e dos policiais. “Isso porque eles operam a emissão de notas fiscais frias de compra e venda a partir de diversas empresas ‘laranja’ que constituem”, afirmou o promotor.

A operação deu continuidade para uma iniciativa das receitas de 2017 contra o que era chamada de “farra da nota fria” no segmento de grãos na região noroeste de Minas. Em novembro de 2018, a Operação Ceres cumpriu mandados de prisão, busca e apreensão em Minas, Goiás e São Paulo. Mas a ação de ontem foi mais ampla. Teve como alvos pessoa empresas (109 no total) em Minas, Goiás, São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Tocantins.

Em Minas foi cumprida a maior parte dos mandados, 73, em Belo Horizonte e em cidades com forte produção rural, como Patrocínio, São Gotardo, Uberlândia e Unaí. Entre os alvos - cujos nomes ainda não foram divulgados - estão 55 corretores de grãos, 22 empresas responsáveis pela emissão de notas frias, produtores e compradores de grãos.