Correio Braziliense, n. 21740, 24/09/2022. Política, p. 2

Bolsonaro e Lula jogam as cartas para reta final



A oito dias das eleições, os dois principais candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), jogam os últimos lances para a semana final antes do primeiro turno de votação, em 2 de outubro. Mas, se na campanha petista a recomendação é de calçar as “sandálias da humildade” e evitar a euforia da cada vez maior possibilidade de vitória no primeiro turno, na do presidente acendeu a luz de emergência.

O comitê de campanha tenta uma correção de rumo por causa das seguidas diminuições no percentual de votos apontado pelas pesquisa de opinião. A mais recente, do Datafolha, divulgada na última quinta-feira, mostrou que Bolsonaro está parado com 33% — Lula foi a 47%.

Fontes da campanha do presidente concluíram que, ao ser impedida a utilização, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das imagens do 7 de Setembro e do discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, frustraram-se os ganhos políticos que eram esperados. Assim, o investimento, agora, passa a ser nas viagens aos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e ao Nordeste, na tentativa de aumentar o desgaste da imagem de Lula.

Bolsonaro também continuará batendo firme na corrupção durante os governos do PT e enfatizará que o ex-presidente esteve preso por causa disso. O primeiro passo dessa estratégia será dado, hoje, no debate entre os postulantes ao Palácio do Planalto, no SBT, do qual o presidente participará, mas o petista, não.

Ainda assim, atacar Lula e o PT com todas as forças pode não dar tração suficiente a Bolsonaro. Integrantes da campanha lamentam que ele não tem conseguido atrair novos eleitores por pregar apenas para sua base fiel. Além disso, já detectaram que voltar a atacar as urnas eletrônicas e ressuscitar a necessidade do voto impresso — como defendem alguns dos seus principais auxiliares — nada agrega ao presidente numericamente. Ao contrário: membros menos radicais do QG bolsonarista acreditam que isso só afasta os indecisos, além de não tirar um único voto dos adversários.

Para reforçar o apoio a aliados locais — e fazer com que alguns dos mais bem colocados consigam lhe devolver em votos esse atrelamento —, Bolsonaro tem feito, diariamente, lives pelas redes sociais. Mas até mesmo esta estratégia apresenta problemas, pois integrantes do governo avaliam que colar à imagem do presidente pode trazer prejuízos nesta reta final.

Para piorar, emergem sinais de dentro do bunker bolsonarista de que a derrota está muito próxima. Como o que passou o coordenador da campanha e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que na última quinta-feira anunciou que entraria em férias para colaborar na eleição da ex-mulher, Iracema Portela, a vice-governadora do Piauí. A iniciativa repercutiu pessimamente entre os apoiadores do presidente e dentro do governo, e ele voltou atrás horas depois.

 

Estrelas da música

Já a campanha de Lula amarra as pontas soltas para a semana decisiva. Mirando nos votos úteis, nos indecisos e tentando reduzir a abstenção, na segunda-feira ocorre o “último grande ato” do petista em São Paulo, com direito a tapete vermelho para artistas. O comício terá participações presenciais e à distância, com nomes como Anitta, Caetano Veloso — que anunciou voto no petista, abandonando o presidenciável Ciro Gomes (PDT) —, Ludmilla e Chico Buarque.

O objetivo do evento é dar uma demonstração de força e de apoio entre diferentes segmentos — a chamada “frente ampla” que Lula vem tentando costurar desde a pré-campanha. Na última segunda, ele conseguiu reunir em uma mesma mesa ex-presidenciáveis de espectros antagônicos, como Luciana Genro (PSol), Marina Silva (Rede) e o economista Henrique Meirelles (União). O petista ainda somou ao seu leque de apoios a nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendando o voto em candidatos comprometidos com a defesa do Estado Democrático de Direito, com as igualdades e com a defesa do meio ambiente — tudo que Bolsonaro tem se mostrado contrário.

Entre os estrategistas da chapa, o maior alvo no momento é  a vitória no primeiro turno. As pesquisas divulgadas nesta semana, como a Datafolha de quinta, mostraram um crescimento do petista e uma chance concreta para liquidar a disputa. Segundo o instituto, o ex-presidente subiu de 45% para 47% das intenções de voto, atingindo ainda 50% dos votos válidos. “Devemos estimular a campanha do Voto por Democracia, Voto Pelo Brasil, para a vitória no primeiro turno!”, disse ao Correio o ex-governador do Piauí e coordenador da campanha de Lula, Wellington Dias, sobre a reta final.

Em paralelo ao “showmício” da segunda-feira, o PT mobilizou sua militância, em reunião na última quinta-feira, para realizar “mobilização máxima nas ruas” hoje e amanhã. A orientação da sigla é a realização de “caminhadas, carreatas, bandeiraços e adesivações”, com o objetivo de dar visibilidade a Lula e estimular o “comparecimento do eleitorado” nas eleições. Isso porque, de acordo com uma fonte próxima ao setor jurídico da campanha petista, uma das preocupações é que os recentes casos de de violência política desestimulem os eleitores a comparecerem no dia da votação.