Valor Econômico, n. 4957, 11/03/2020. Internacional, p. A11

Eficácia do sistema de saúde é vital na epidemia
Assis Moreira


A Itália é o segundo país a reportar o maior número de infecções e mortes por coronavírus depois da China, mas outros países europeus, que estão no início da epidemia, podem começar a registrar mais mortes nos próximos dias e semanas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Por outro lado, a diferença no número de mortes por causa do coronavírus entre os países pode ser explicada em parte pela capacidade dos sistemas nacionais de saúde de reagir à epidemia, indicam fontes que acompanham a atuação dos países na OMS.

A Itália tinha mais de 10 mil casos confirmados e 630 mortes até ontem, segundo a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, comparado a 51 casos e dez mortos no Japão, apesar de parte significativa da população japonesa ser idosa.

Para importantes fontes, isso pode se explicar pela prontidão dos sistemas de saúde, capacidade de fazer testes, ter leitos, equipamentos e outros materiais para enfrentar a crise. Aparentemente, a Itália não estava preparada para uma emergência como o Japão.

A Itália tem 275 leitos de hospitais para cuidado intensivo (acute-care) para 100 mil residentes, enquanto a média na União Europeia (UE) é calculada em 394. Além disso, o governo italiano tem sido criticado pela desastrosa combinação de severidade e improvisação no enfrentamento ao vírus.

Outra diferença que tem chamado a atenção é entre a Alemanha com 1.457 casos confirmados e duas mortes, e os EUA com apenas 959 casos confirmados e 28 mortes por causa do vírus.

Fontes na área de saúde notam que nos EUA muitas pessoas estariam supostamente evitando fazer o teste em razão do alto custo do exame, que custaria até US$ 2.500.

Indagado sobre essas diferenças na mortalidade entre os países, a OMS respondeu que, numa epidemia, as taxas de mortalidade não são constantes e podem mudar consideravelmente se, por exemplo, for descoberto que existem muitos casos mais brandos do que se pensava inicialmente.

Conforme a OMS, no caso da covid-19 os pacientes que morrem da doença foram infectados 2-3 semanas antes, em média. “O surto na Itália está evoluindo há mais tempo do que em outros lugares da Europa e, portanto, mais pacientes terão completado o ciclo da doença e receberão alta ou vão falecer. Outros países europeus, que estão no início da epidemia, podem começar a registrar mortes nos próximos dias e semanas”, diz um porta-voz da OMS.

Para a entidade global, a taxa de mortalidade também pode ser afetada pelo perfil etário dos casos, geralmente as mortes ocorrem em idosos, com mais de 70 anos. Nos estágios iniciais da epidemia, é possível que ocorram mais casos em adultos em idade ativa antes que a epidemia se espalhe para populações mais idosas, onde a mortalidade da doença é maior.

Por fim, a OMS sublinha que a sensibilidade da detecção de casos fará diferença, e os sistemas nacionais de vigilância podem variar em sua capacidade de detectar casos. “Se nem todos os casos, especialmente os mais leves, estiverem sendo detectados, isso afetará a taxa de mortalidade”, diz.