Título: Ameaçados de cassação, petistas devem renunciar
Autor: Renata Moura e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, País, p. A2

Cinco dos seis filiados ao PT pretendem abrir mão do mandato ainda hoje

BRASÍLIA - Apesar de dispostos a aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a suspensão dos processos até o último momento, pelo menos cinco dos seis petistas ameaçados de perder o mandato deverão renunciar hoje, até a abertura do processo no Conselho de Ética, às 18h: João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP), Josias Gomes (BA), Paulo Rocha (PA) e João Magno (MG). A decisão foi tomada depois de consultas durante o fim de semana e contaria com a chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que disse a assessores, em Roma, onde se encontrou com líderes de esquerda, que a renúncia dos parlamentares petistas acusados de se beneficiarem com o mensalão seria o melhor caminho.

Assim, na avaliação de ministros do núcleo político do governo, a crise política que vez por outra insiste em rondar a rampa do Palácio do Planalto tenderia a se esgotar por falta de combustível da oposição. E mesmo com a renúncia, os parlamentares teriam musculatura política e estrutura partidária para retomar os respectivos mandatos nas eleições de 2006, já que eles ficará assegurada a legenda do PT graças a uma negociação que envolveu nos últimos dias o presidente Lula e o recém-eleito presidente do PT, Ricardo Berzoini.

Até ontem, apenas Professor Luizinho (PT-SP) resistia em abrir mão do mandato, convencido de que conseguirá se livrar da cassação em plenário. O ex-líder do governo considera as provas que pesam sobre ele inconsistentes. O parlamentar entrou para a lista de investigados das CPIs dos Correios e do Mensalão porque um de seus assessores parlamentares sacou R$ 20 mil das contas de Marcos Valério Fernandes de Souza.

- Do grupo, o Luizinho (SP) é o único que de maneira nenhuma pensa em renunciar - afirmou ontem o advogado dos petistas, Márcio Luiz Silva.

O deputado João Paulo Cunha, que até a última sexta-feira descartava a possibilidade de prescindir do mandato, após consultar suas bases eleitorais no fim de semana, já estava inclinado a renunciar para preservar os direitos políticos em 2006. O ex-presidente da Câmara pesa uma avaliação dos membros do Conselho, para os quais não haveria como salvar o mandato em plenário uma vez que ele mentiu ao negar saques feitos por sua mulher das contas de Marcos Valério. Ontem, o deputado foi procurado pelo JB mas não foi encontrado.

- Ele é muito querido, nem sei como se envolveu nesta história. O problema é que mentiu, quebrou o decoro parlamentar. Não tem jeito, o plenário deve seguir com a recomendação pela cassação - avaliou um dos membros do Conselho de Ética da Câmara.