Título: A inflação e a intrigante alta do ouro
Autor: Matthew Lynn
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2005, Economia & Negócios, p. A21

Valorização é sinal de busca por proteção contra elevação dos preços LONDRES - Duas commodities vêm deixando os operadores confusos: o petróleo e o ouro. A alta dos combustíveis já deixou todo mundo preocupado e trouxe de volta a memória dos deprimentes anos 1970. Agora é a vez do ouro. Nas duas últimas semanas, o brilhante e duro metal despontou com força, elevando o valor de gigantes da mineração como a Anglo American. Acima de US$ 470 a onça, alcançou níveis não observados há quase duas décadas.

Pensem o que pensarem os profetas do mundo financeiro, a alta do ouro não está nos dizendo que a economia mundial se prepara para cair na hiperinflação. Também não está nos revelando que o papel-moeda não tem valor e que as pessoas estão amealhando um ativo mais confiável.

O fenômeno apenas está nos dizendo que existe muito dinheiro barato por aí. O preço de quase todas as commodities já explodiu. A chegada da vez do ouro era apenas uma questão de tempo.

O aumento dos preços do metal provavelmente assinala o fim de um período de inflação, e não o começo. O crescente preço do ouro parece o último suspiro do mercado altista para as commodities.

- A opinião dominante é que o ouro está em alta porque é um hedge contra algum tipo de avalanche financeira - disse Richard Cookson, estrategista da HSBC Holdings. - Infelizmente, não há qualquer indício que sustente isso.

Houve, sem dúvida, boas e poucas semanas de investimentos no metal. O ouro agora subiu para mais de US$ 470 a onça, em relação aos cerca de US$ 430 a onça do início do ano. O metal deixou para trás a baixa máxima de US$ 255 dos idos de 2001. Temos de voltar a 1987, quando o preço pairou próximo da casa dos US$ 500 a onça, para encontrar esse patamar. Em termos reais, seria necessário retornar a 1980, quando ele era negociado a US$ 800 a onça.

Há muitas evidências de que os fundos de hedge, o bode expiatório preferido de todo mundo, acorreram para investir grandes somas na commodity. Segundo dados da Commodity Futures Trading Commission dos EUA, os fundos de hedge e outros grandes especuladores elevaram a posição comprada (ou seja, apostam na alta dos preços) em contratos futuros em Nova York.

As ações da mineradora Anglo American subiram para 16 libras esterlinas, contra uma cotação de 12 no início do ano. As ações da Harmony Gold Mining Co. avançaram 40% no mesmo período.

- O ouro pode muitas vezes ser um indicador de que as pessoas estão sentindo que a disposição das autoridades em controlar a inflação se esgotou - disse Stephen Lewis, economista-chefe da Monument Securities.

O ouro é às vezes visto como o hedge por excelência contra a inflação. Ele é a forma mais antiga de dinheiro. Existe uma quantidade limitada desse metal no mundo. E, se monitorado ao longo do tempo, tem-se mostrado um investimento sólido.